segunda-feira, 2 de junho de 2025

La fine...


 

Imaginário particular

 


Imaginário particular

 

Te imagino e invento,

E assim, sem seres real, jamais deixarás de existir

Persistes

Te vejo e revejo de olhos fechados

Lá estás todo santo dia sem forma nem cheiro

Lá estás em sons do meu desejo

Lá estás sem nunca ter estado porque assim são as coisas que na verdade não existem

Lá, onde nunca iremos estar,

Persistes

Prendo-me de bom grado à fantasia de amor que tu me ajudaste a criar

O nosso ridículo imaginário particular

domingo, 11 de maio de 2025

Navegar

 




Navegar

navego

leme nas mãos por todo o tempo

a crer que sei muito bem para onde vou

meu barco

meu timão

meu juízo

minha resolução

navego

no entanto não controlo os ventos que livres sopram e me levam

com eles

em direções desconhecidas

por uma rota traçada pela natureza inconstante das brisas que simplesmente

correm quando não lhes apetece dormir.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Todos os Beijos para a Fran

 


Todos os Beijos para a Fran

 

Uma semana depois e ainda não sabemos o que dizer, e por isso dissemos muita besteira. Uma semana depois da sua despedida prematura, querida amiga, e não sabemos o que pensar, o cérebro parece embriagado ainda pela surpresa terrível. Uma semana sem Fran aqui conosco e o coração não sabe o que sentir. Tristeza, claro. Raiva, um pouco. Carência, muita. Saudades, nem sabemos medir.

Fran, não estávamos prontos para um mundo sem você. De forma alguma. Sem avisos, sem porquês conhecidos, você partiu e nos deixou órfãos de irmã. Irmã amiga, irmandade escolhida por nós, as capivaras, porque a família de coração se faz ao longo da vida. Se faz com tudo que se vive. Com as risadas que não sabemos medir, com momentos bons e ruins nos quais estávamos juntos, com colos e abraços desmedidos. Vimos namoros e separações, conquistas e desilusões, formaturas, casamentos, nos multiplicamos e novas capivarinhas vieram. Vivemos juntos, viramos adultos juntos.

Amore, não sabemos como estar sem você. A verdade é esta. Para mim, sobra o amargor de não ter estado contigo quando eu devia este ano. Perdão amiga, me arrependo muito. E sabe, Fran, a única coisa que temos certeza e de que uma pessoa ímpar nos deixou. Nenhum de nós tem a sua paciência, o seu caráter pacificador, a sua capacidade de se doar e perdoar. O seu bom humor eterno e a sua risada cheia de vida.

Vamos sentir tantas saudades querida. Beijos e beijos pra ti. Todos os beijos para ti aí no céu.

Te cuida, amiga!

 

domingo, 16 de março de 2025

Na Mata

 


Na mata

O verde invadiu seus olhos míopes tão intensamente que os óculos de Ana pareciam não ter mais razão de ser. A mata era muito mais poderosa do que muitos acreditavam ser com suas árvores infinitas de galhos eretos cantando aos céus e raízes agarradas a terra com paixão.

Ana pensava compreender as árvores, e as sentia como quem sente a presença da família; como um abraço acalentador. Na mata ela estava em casa, e por isso a viagem de carro pela serra lhe parecia tão bom quanto chegar ao destino. Porque através da janela do carro a visão era inacreditável: a Mata Atlântica oceânica.

Sentirei saudades da mata quando não puder mais vê-la. Pensou a menina.

Pensou com a certeza de quem partirá muito antes do que as árvores que a viam passar. Ana já contara aos amigos seus desejos finais: quando morrer, não haverá choro nem vela, como diz a canção; a menina queria uma festa antes do destino final – virar humus e crescer Ipê Amarelo no meio da serra.

O mundo era mesmo muito bonito, as pessoas é que estragavam um pouco a beleza da vida com suas ideias mesquinhas de corações egoístas. Sendo assim, na próxima vida Ana não queria ser gente, pois não lhe parecia necessário viver feito gente mais uma vez. Ser árvore seria muitas vezes melhor. Sentiria suas raízes ligadas à terra, passaria seus dias a dançar no ritmo dos ventos. E quando as gotas grossas de chuva caíssem, abriria olhos e boca para sentir a graça da vida.

Quero ser árvore no meio da mata. Dizia a menina

Ela adoraria ter ninhos de pássaros em seus galhos. Vê-los crescer. Aprenderem a voar. Ouvi-los cantar. E como seriam divertidas todas as vezes que os micos e outros macacos passassem por seus galhos com suas acrobacias ágeis a gritar. Deus do céu, se sentiria bela como nunca quando com a chegada da primavera suas flores desabrochassem chamando a atenção de todos que por ela passassem.

Seria bom ver as pessoas de olhos curiosos passarem pela estrada. Seria melhor ainda se a família, os amigos e o amores viessem ao seu pé se sentar. Nesse momento leria seus pensamentos e ensinaria aos seus meninos e meninas a ouvi-la para que se sentissem abraçados. Seria bom ouvi-los de violão em punho a cantar. Seria inacreditável ouvir ao João cantar, e então, sem muito pensar lembrar-se que na vida passada havia sido gente feliz.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O amor...

 


O amor...

 

Amo?

Por que te amo?

Amo porque te amo

Por quê?

Porque te amo sem conseguir racionalmente

pesar com precisão os pesares da questão

Nada pesa de verdade,

Verdade?

Sim, claro que sim.

Creio que sim... assim...

Não sei bem dizer qual a razão desta paixão arrazoada apenas

pela minha intuição

pela falta do bom senso que há algum tempo pulou pela janela do meu quarto e fugiu.

e sim,

porque sim

Apenas porque sim, porque sempre foi assim

para mim

E assim, incongruente

como um cão que morde o próprio rabo,

ele seguirá

seguirá este meu amor por ti