Os Meninos
Um menino Sírio definiu, durante
uma entrevista, o que significava a guerra para ele. Guerra, em sua
compreensão, era algo inventado para que meninos e meninas fossem mortos, para
que eles perdessem suas casas e suas famílias. É muito difícil para ele, como o
é para nós todos, compreender de onde vem tamanha covardia. Por que os homens
ainda fazem guerras? Entretanto, muito mais complicado torna-se toda a estória
quando temos que aceitar que tal covardia nasce e mora dentro da gente também. Não?
É verdade que a maioria de nós
nunca empunhou qualquer arma ou feriu a alguém. Nunca explodimos uma bomba para
destruir uma vila inteira. Fato. Porém, o que dizer da indiferença que levamos
conosco todo santo dia por todos os nossos caminhos? No meu país há meninos a
dormir na rua e a pedir dinheiro nos sinais; há meninos que desconhecem o que
deveria ser infância e cedo aprendem que nesta vida o negócio é morrer ou
matar. Há crianças que choram e não têm ninguém por perto para consolá-las. Há crianças
a passar fome bem perto de mim, e a vida está errada assim.
Bem, apesar de saber que nos é
impossível comparar todas estas crianças com as nossas crianças. Com as
crianças que protegeremos com nossas vidas se preciso for e para quem sempre
estamos ali, bem ao pé delas para garantir que a vida seja, para todo o sempre
e além, bela. Claro é que estes são nossos filhos, afilhados e sobrinhos e que
serão para nós por toda a nossa vida nossos meninos; um sentimento único e
profundo. Porém não deveríamos nos sentir também um pouco responsáveis por
estes outros pequenos que são em sua essência iguais aos nossos: pequenos e
indefesos?
Hoje ao ouvir Vilarejo, uma
canção antiga de Marisa Monte, lembrei-me do menino sírio cujo nome eu
desconheço e que talvez não esteja mais vivo. A canção Vilarejo já tem mais de
dez anos e, entretanto, parece que foi escrita ontem com seu vídeo que repete
cenas tão atuais que doem na alma da gente. Cenas alimentadas pela nossa indiferença.
A canção Vilarejo.