O país das gentilezas
Chile, como qualquer outro país deste
mundo, tem seus problemas; claro. E tenho certeza que podemos encontrar tanto
gente muito boa como as de caráter duvidoso tanto aqui como em muitos outros
países. Entretanto, todas as vezes que por cá estive, mais do que muitas outras
coisas, do que as belezas do país, a capacidade para a gentileza que me parece
natural a uma parte muito grande dos chilenos chamou-me atenção.
Certo é que me considero uma
pessoa de sorte, seguida por um anjo da guarda atento que me acompanha o tempo
todo nesta vida. E que em todas as minhas viagens sempre tive a ajuda de
pessoas completamente desconhecidas quando precisei; seja na América Latina ou
na Europa. Entretanto, não há como negar, os chilenos têm se mostrado
excepcionalmente gentis e atenciosos deixando-me a impressão de ser uma população
que procura ajudar aos outros, aos estrangeiros como eu, desinteressadamente.
Desta vez, parada num ponto de
taxi, com meu pai, carregando um par de caixas laranja de vinho à espera do
próximo carro e com “faccia” de
turista, vejo um ônibus de linha, regular, parar em nossa frente. O motorista
abre a porta do micro-ônibus e nos grita: “¿Ustedes van a Las Mercedes?” Sim,
como todo turista saindo da vinícola íamos para a Estação de Metrô Las
Mercedes. Porém, esperar que um motorista de ônibus parasse para nos ajudar
fora do ponto de ônibus, sem que lhe pedíssemos ajuda ou fizéssemos qualquer
sinal, seria algo incomum, não? Bom, foi para meu pai e eu algo inesperado. Foi
muito bom!
Convite aceito. Fomos de ônibus à
estação de Metrô com menos conforto do que o faríamos num taxi, entretanto,
sentindo-nos muito mais acolhidos neste país, aos meus olhos, gentil por
natureza. Verdade que o motorista, um senhor pelos seus sessenta anos, era
mesmo meio maluquinho e simpático com toda a gente. Verdade também que outras
pessoas, por estes nossos dias chilenos, já nos ajudaram sem que tivéssemos
pedido. Ou seja, não há como negar, os tais dos chilenos são, em grande parte,
um povo que já nasce munido de empatia para com as outras pessoas sejam elas
quem forem e ponto final.
Fico a pensar se veríamos essa
tal gentileza no Brasil. Se nós, como povo, temos a capacidade para acolher tão
delicadamente às gentes que vêm ao nosso país. Se eu sou capaz de ser assim tão
atenciosa e gentil com gente que caminha pela minha cidade. Não sei. Creio que
não, pois me parece que algo aconteceu em nossas terras que nos fez esquecer a
importância de sermos gentis apenas porque assim deveríamos ser. Então, mais do
que fotografias, levo para casa comigo uma lição deste país que eu espero não
esquecer: ser gentil deve ser uma condição “sine
qua non” de todo ser que vive; uma condição para mim.
E como dizem os chilenos: Chi chi chi le le le, ¡Viva
Chile!
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