domingo, 26 de junho de 2022
80 vezes mais Gil
O nosso Modo de Ser
O nosso Modo de Ser
Sou americana. Sim,
todos nós que nascemos e vivemos no Continente Americano podemos assim sermos chamados
como a todo e qualquer cidadão da Europa chamamos de Europeu, ou a alguém que
nasceu na África de africano; não? Pois bem, que talvez assim o devesse ser eu reconheço.
Contudo, não há como reconhecer-me como americana. Não senhor; pois que não.
Não sei bem se o
fato se dá porque temos os Estados Unidos e toda a sua típica megalomania a
apropriar-se deste adjetivo pátrio, ou se ocorre porque o que sentimos que nos
identifica mais do que qualquer outra coisa é o fato de sermos latinos; e não latino-americanos.
Disso sei. Sou uma mulher latina pois que assim me sinto. Apesar de não ter
muita certeza do que signifique exatamente ser latina.
Falo português,
que de fato é uma língua latina. Porém isso mais me segrega do que me une ao
resto do mundo latino. Sou uma mistura de raças como os latinos que falam
espanhol, mas isso também praticamente todo norte-americano venha a ser, não?
Tenho orgulho da
mescla da qual sou feita, e a minha viralatice, vista por outros como defeito,
é a minha força; o cerne de quem sou.
Quiçá, ser
latino seja isso: ser um ser que fale uma língua latina e que se orgulhe de ser
uma mistura muito grande de culturas e tradições. Um ser feito de retalhos que,
ao invés de enfraquecerem a nossa trama, nos fortalecem. Pode ser.
Contudo, não
acho que seja importante encontrar uma clara definição para o que realmente venha
a ser o ser latino. Pois que algo me diz que nesse nosso mundo particular,
aceitamos a quase todo mundo que nele queira entrar. Basta não ser um pinche
gringo. Jajajajaja...
eU
eU
Não sei ainda exatamente quem sou
talvez o devesse saber
Porém meu mundo é feito muito mais de transformações
do que de certezas
E sei apenas que me conheço e reconheço
mais e mais com o passar do tempo
Percebo que com o caminhar dos anos
começo a estranhar um bocado, mais uma vez,
o passado;
a desconhecer quem fui
Sem muitas saudades do que passou
gosto mais de mim por estes dias
de metamorfose
Nos quais, por algum motivo, o qual não sei bem,
deixei de lado as certezas que comigo andavam por anos
sem sentir insegurança
ou medo
eU Sei
De novo, o novo
chegará
domingo, 12 de junho de 2022
O que será - Milton
A janela
A janela
Quantas vezes disse não?
digo não
Quantas vezes ignoro sem pudores
O outro do lado de lá da janela?
Nada nos separa
Tanto nos separa...
Não sei.
Não sei dizer quantas foram as vezes e
Nem sequer quantas mais serão
Sei apenas que há algo pesado que nasce cá dentro
Tanto nos separa
Nada nos separa
Adoeço um pouco
Envelheço um pouco
E me estranho enormemente
Do lado de cá do vidro que nos separa não sei bem quem sou
Nos separamos
Em que momento despi o outro de sua identidade
Deixando de perceber a natureza humana
Da mão que grita
Diante dos meus olhos
Que este mundo pode ser cruel demais?
Me separo
Nada nos ampara
Tanto nos separa
quarta-feira, 8 de junho de 2022
Hiato
Hiato
Num hiato,
momento ingrato,
instante parado sem tempo algum que passe
num incômodo espaço
pio
Espio o futuro que chega sem pedir licença
Enquanto agarro-me, desmilinguido, por um fio de dedo
parvo
às crenças do passado
paro
sem certezas do que acontece na cena seguinte; sem roteiro
titubeio
perambulo
vago
E os dias sem mim continuam a correr velozes
em direção a um instante
no qual não estou
não sou
fui