Capotando
O mundo não
gira, ele, às vezes, capota... E sempre que ouço ou leio isso, sorrio. Não porque
simplesmente eu ache graça da desgraça alheia, mas porque imagino o mundo,
gordinho, de pernas para o ar sem saber como fazer para resolver a situação;
feito uma tartaruga de barriga para cima.
Por esses dias, li
a tal capotagem do Mundo numa postagem que zombava de um time de futebol
feminino e sua torcida que, devido à vantagem conquistada anteriormente, já se
achavam vencedores da parada. Pois 1, perderam. Não só perderam, mas levaram
uma surra vergonhosa de dar pena a todos. Bem, quase a todos. Nós, os que batemos figuradamente, apenas no
campo do desporto, amamos o feito.
Contudo, o fato,
é que a tal capotagem faz parte de nossa natureza. Quando menos esperamos, sem
percebermos de onde veio a rasteira, de um repente nos vemos de pernas para o
ar à la barata tonta. Falhamos, ou o mundo falhou conosco. Não importa. O
fato é que muitas e muitas vezes aquilo que nos parecia certo simplesmente não
acontece.
Eu também já
capotei inúmeras vezes e com estilo, para além de todas as vezes que realmente fui
ao chão atabalhoadamente devido à minha natureza de jaca distraída: destinada à
queda. Sim, tenho quedas homéricas em público; vergonhosas, engraçadas e
doloridas.
Por anos, a
verdade é que os “capotes” metafóricos me foram muito mais custosos e doloridos
do que os físicos. Sempre me achei dona da situação, pelo menos da minha
situação, do meu lindo narizinho de batata. Ou seja, acreditava piamente controlar
minha vida e tudo que nela acontecia. Sendo assim, perceber que minhas crenças
e certezas eram, e são, falhas, ter que aceitar o fato de que estou equivocada
era quase impossível... Meu Deus! Por quê? Como assim? Não pode ser... Pode?
Pois 2, pode
sim. Mais do que pode, é tão certo quanto mais provável à medida que aceitamos
a falta de importância de nossa existência neste Universo, o fato de que o Mundo
caminha a despeito e à deriva da nossa vontade. E, sendo assim, não há qualquer
motivo para que Deus se preocupe conosco, ou para que nosso querer seja mais
importante do que o de uma formiga.
Bom, alguns
poderão argumentar que estamos destinados a feitos incríveis. Sim. E daí? Haverá
um tempo no qual todos os feitos geniais desta nossa humanidade terão sido
esquecidos por todos, mesmo que em nossa época tenham sido extraordinários. Imagine-se
lá, então, a quão esquecida estarei eu, em minha ordinariedade, em menos de cem
anos?
Bom, o fato, é
que a tal desimportância ao invés de me deprimir, veio a libertar-me. Compreendi,
mesmo que ainda seja muito difícil praticar diariamente, que não valho mais do
que qualquer ser vivente deste planeta, e que aceitar a minha natureza mortal e
comum é um grande alívio. Erro, logo existo um pouco menos estressada.