A Copa do Mundo Agridoce
Começa mais uma Copa do Mundo e eu,
como sempre, me assanho. Olhos famintos por todos os jogos, camisa nova do
Brasil, horas e horas de programas sobre a bola. E a busca por outros que como
eu respiram o gramado da cancha felizes por estes dias para uma boa prosa de
horas é um prazer. Sim, gosto de futebol desde que me lembro por gente. Talvez
por querer passar algum tempo com meu pai e ter o que falar com ele. Coisa de
meninos, sabe? Pode ser.
Entretanto, não há, para mim, como
não se apaixonar por um jogo de xadrez cheio de emoção e movimento. Peças todas
vivas e alertas, a estratégia que anula o oponente, ataque contra defesa, os
lances geniais e inesperados. A inteligência e as capacidades físicas unidas a favor
da beleza de gols únicos; como não amar tudo isso? Não sei.
Desta vez algo me diz, simplesmente
porque sim, que mais uma vez verei a minha seleção campeã. Quiçá? Aceito apostas.
Chances temos, como quase todos os times as têm. Porém, o mundo todo há de convir
que 20 anos sem um título é tempo demais para nós. A mais mágica de todas as seleções
de futebol tem que brilhar mais uma vez; não? Sim! E isso será muito bom para
nós brasileiros apesar de todos os pesares.
E os pesares são tantos que, mesmo
com todo o fanatismo pela redonda a rolar, não conseguimos mais ignorar o
tamanho das injustiças do mundo do futebol, de sua cobiça infinita por dinheiro
e poder, de seus desmandos e absurdos que ocorrem apenas para que tenhamos nós,
pobres mortais, um mês de muito circo e pouco pão.
A copa no Qatar traz consigo mais questionamentos
sobre o quão equivocada foi esta escolha de país para o evento do que as maravilhas
que todo o infindo dinheiro dos xeiques catares pode comprar. Afinal, como
celebrar uma nação onde a liberdade é um bem restrito a homens héteros e com
alguns dinheiros no bolso? Um país misógino, xenófobo, homofóbico. Um país? Pois,
não há como celebra-lo.
Como foi difícil celebrar a Rússia de
18, o Brasil de 14, a África do Sul de 10... a Argentina de 78. Esta é uma
história antiga, não?
Curioso torna-se, porém, o fato de
percebermos que um país artificialmente fantástico em sua essência não consiga
de forma alguma esconder as mazelas humanas, que pululam num mundo tão agridoce
quanto o nosso, de nossos olhos nem mesmo enquanto a tenda do grande circo está
armada e o picadeiro iluminado.
Que venha o hexa sem direito a
grandes festas e ilusões.