O Amigo Tempo
Com o tempo tudo
passa. Já ouvimos alguém a dizê-lo tantas vezes por aí para os outros e para
nós mesmos. Dê tempo ao tempo; dizem os mais velhos. Posso já incluir-me nessa categoria
de gente? Os mais velhos. Talvez sim. Sinto-me no meio do caminho, ainda curiosa
para saber como será o restante da jornada e certa de que toda mudança é boa. Mesmo
aquelas que de cara nos assustam muito.
O tempo tudo
cura, dizia minha mãe. O tempo parece passar mais veloz desde que Mima virou estrela. Curioso isso. E parece que já faz um tempão desde nossa última
conversa. Sinto tantas saudades enormes dela. Saudades do tamanho das Cordilheiras.
É, o tempo nos dá muita coisa, mas temos que entender que o tempo das outras
pessoas e de tudo que é vivo não é eterno. Cada ser tem o seu tempo único e
especial. Nos resta aceitar.
Quanto tempo tem
o tempo que é meu? Me pergunto sempre. Não por medo; não. Meus medos o tempo de
vida que tenho já se encarregou de levar. (Tirando o irracional medo às baratas
que tenho. Só de pensar o corpo se treme. uuuhhgg). Contudo, fica a dúvida se terei
tempo para ver e fazer tudo o que gostaria. Aprender a tocar um instrumento, falar
uma nova língua, viver um tempo num lugar completamente diferente do meu, ver
meus miúdos todos crescidos e florescendo felizes... Sei que coisas novas virão
por aí, logo a dobrar a esquina, e isso me alegra.
Na mitologia,
Chronos, deus do tempo, devorava aos seus filhos para que nenhum deles tomasse
seu trono. No nosso caso, no meu caso pelo menos, sinto que somos nós que
devoramos o nosso deus-tempo, ávidos por toda a vida que ele nos traz
diariamente.
Meu amigo tempo,
peço apenas que se demore um pouco por aqui ao meu lado; sem muita pressa e
pronto para muita conversa regada a vinho ou café. Afinal, temos, mais uma vez, um ano novinho em folha para juntos saborearmos.