quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Hoje tem Marmelada...

Selton Mello e Paulo José em O Palhaço


Habituamo-nos tanto a falarmos das coisas erradas que temos aqui no Brasil que, vez ou outra, vale à pena pisar no freio e falar um pouco sobre o que temos de bom; sobre o nosso melhor. Vamos a ele então? Bem, neste último domingo fui ao cinema para ver O Palhaço, filme dirigido, estrelado e com roteiro co-escrito por Selton Mello. Sim, que o rapaz está a pensar-se um Woody Allen, um Almodóvar ou coisa que o valha, tão amplo que se mostra na película. Mas a verdade é que o filme, de, por e para os brasileiros, é mais do que bom, ele é uma sensível obra poética do princípio ao final.
Desta feita, com uma declaração assim, meus amigos devem estar a pensar: Olha que este deve ser mesmo o maior feito brasileiro na sétima arte nos últimos tempos e etc. e tal, não? Bem, lembrem apenas que sou eu a dizer-lo e, vai daí que meu gosto e desgosto devem ser levados em consideração para que vocês evitem uma decepção das grandes depois de assistir o tal filme e pensar: o que foi que ela viu aqui?
Entretanto, vi em O Palhaço algo que não se vê no cinema todo o tempo, não senhor. Selton nos traz um filme enxuto e significativo como os bons poemas de Carlos Drummond. Econômico em suas palavras e linhas, o diretor fala-nos muito mais pelo que não é dito, mas pode ser sentido e visto nas entrelinhas que são desenhadas à medida que a trama se desenrola diante de nossos olhos. Em O Palhaço, mais do que os diálogos, são os silêncios que nos têm algo a dizer.
Em meio a todos estes silêncios e a figura do palhaço tão melancólico e perdido, um solitário Benjamin remete-nos a Carlitos, o Carlos Chaplin que, tão palhaço como ele, foi um gênio na arte de mostrar-nos uma enchente de sentimentos e sensações sem precisar de uma única palavra sequer. E, tal como nos filmes de Carlitos, os olhos em O Palhaço são marcantes e nos contam contos muito para além do que dão conta as palavras.
Por isso, não esperem deste filme momentos grandiloqüentes e dramáticos ou muita ação, não. Há nele o drama, a graça, o estranhamento e a beleza, contudo, isso tudo nos é dado de forma delicada e simples e, justamente neste fato é que reside toda sua genialidade: o belo que há na simplicidade, basta-nos termos olhos e  coração bem abertos para ver.
Este é sim um convite para o cinema. Bom filme meus amigos!
Paulo José  no filme O Palhaço

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