Meus pais. |
Tenho por tradição viajar no mês
de Setembro. Este é o mês de meu aniversário e, por isso mesmo, gosto de tirar
férias da minha vida de todo dia e dar-me de presente uma vida diferente por um
tempo; mesmo que breve. Gosto de ver gente que nunca vi, de pisar em terras
novas, de descobrir um pouco do tudo que existe para além do meu jardim. Assim tem
sido há anos: todo Setembro, tal andorinha, bato as asas por aí.
Contudo, neste ano as férias
estão a mostrar-se algo diferente. Alheias a minha vontade, estas férias se
mostram um tempo de olhar para dentro, para os que eu já conheço e amo muito. Então,
ao invés do meu egoísta prazer pensado para satisfazer o próprio umbigo, este
tem sido um tempo de ser e estar para os outros. Um momento difícil e,
curiosamente, bonito ao mesmo tempo. Por motivos que apenas Deus deve saber,
porque para mim tudo chegou sem pedir muita licença ou explicação, este
Setembro tem sido diferente.
Os primeiros 15 dias do mês foram
passados com meus miúdos, meus afilhados de fato ou de coração, meus filhos de
conto de fadas. Amo-os muito, e ser responsável por eles por alguns dias é
cansativo, é complicado, mas é, mais e acima de tudo, um prazer sem igual. Vê-los
tão de perto e partilhar da rotina deles amplia nosso carinho e agiganta o
coração. Quanto mais tempo estou com eles mais os amo e mais saudades sinto
quando nos separamos. Os miúdos são uma linda visão do futuro, são todas as
possibilidades que a vida tem, são a fantasia e a felicidade feitas em carne e
osso; eles são a alegria em forma de gente pequena.
Agora, nos últimos 15 dias do mês,
estou a cuidar de minha mãe que, de repente, adoeceu. Talvez não tenha sido tão de repente assim,
pois o fato é que depois de tantas voltas dadas pelo mundo, minha mãe já não é
mais uma menina mesmo que eu teime em vê-la sempre assim - jovem. O fato é que
a coisa toda me é estranha, uma novidade sem igual, já que foi sempre ela que
cuidou de mim. E sei que a amo muito, porém o medo de perdê-la e toda a
situação que se apresenta me fazem ver mais claramente o quão importante ela é
para mim. Minha mãe e meu pai são o centro do mundo que eu chamo de meu; eles são
meu sol, minha terra firme. Eles são tudo o que já fui e aquilo o que eu chamo
primordialmente de lar. Minha mãe e meu pai juntos são a minha casa em forma de
gente.
Eu ainda não sei o que Outubro me
trará, não quero pensar muito nisso. Ou melhor, não consigo fazê-lo. Quero
apenas, e sem grandes ambições, estar com os que amo e ser, mais do que de
costume, uma parte da vida deles.
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