No próximo domingo, 05 de
Outubro, eu cumprirei, de maneira nada democrática, com minhas obrigações
cívicas de cidadã brasileira: vou votar. Isso de falar em obrigações cívicas
faz lembrar-me de uma matéria escolar dos tempos da ditadura militar – Educação
Moral e Cívica, algo que estudávamos para melhor compreender como funcionava a
nossa grande e benevolente nação e como deveríamos civicamente nos
comportar. Naquela época não se votava
em ninguém, e eu, que era muito menina, ainda não entendia nada do que se
passava e decorava, patrioticamente, todas as bobagens e balelas que me eram
empurradas goela abaixo.
Hoje, décadas e décadas depois das
minhas famigeradas aulas, a situação é muito melhor, claro. Pois melhor que uma
ditadura qualquer coisa nesse mundo é, sem sombra alguma de dúvida. Contudo,
não podemos nos orgulhar e dizer de cabeça erguida que vivemos numa democracia
plena, e que pelo voto o brasileiro anda a exercer conscientemente o seu poder.
Estamos longe disso, e se formos analisar detalhadamente o que significa a
palavra democracia, percebemos que a distância a qual estamos desta palavra é assustadora.
Democracia – substantivo feminino
– significa: um governo onde o povo exerce a soberania, direta ou
indiretamente.
Pois, que não conseguimos exercer
qualquer soberania sabemos desde antes do votar, já que não temos o direito a
optar pelo ato em si ou não. Votar no Brasil ainda é uma obrigação e não algo
que decidimos fazer de livre arbítrio. Estranho isso, não? Antes não podíamos
votar, lutamos para mudar esta situação. Agora não temos o direito de não
votar, como não temos quase direito nenhum neste país, o que significa que
ainda há muito pelo que lutar.
Quando eu era menina e estudava
Educação Moral e Cívica, os homens e mulheres que hoje lutam pelo poder em meu
país lutavam pela liberdade e pela democracia. Naquela época eu os admirava.
Hoje não há nada a admirar, mesmo para quem ainda é muito jovem. E a única
lição que se aprende com isso tudo, é a de que o poder corrompe toda e qualquer
alma que se aproxime muito dele. Hoje não há ideais ou idéias, não há
ideologias e/ou partidos que as sustentem; não senhor. O que temos hoje são
políticos com muita ganância e muitas ganas de fazer o bem a si mesmos sem se
importarem com mais ninguém.
Por isso, mesmo que venha alguma mudança após
as eleições (mudanças que são muito bem-vindas, mesmo que tênues dado que este
governo que cá temos apresenta-se mui vicioso) no final das contas sabemos que
teremos algo muito parecido com o que já conhecemos desde que a democracia
voltou a reinar por aqui. E este é um
pensamento muito perigoso à medida que nos paralisa por replicar a idéia de que
nada podemos fazer para mudar a situação já que todos os políticos são iguais.
Portanto, mesmo depois de tanta
gente na rua a protestar em 2013, hoje me parece que a mudança não virá e que ao
invés de algo parecido, teremos mesmo um pouco mais da mesma coisa outra vez. E eu, que vou sair de minha casa em busca da
mudança neste domingo penso: Deus, meu Deus, (como diria um nosso antigo
presidente): assim não pode, assim não dá!