“Mãe, você está
com medo?”
“Medo? Não.
Vamos enfrentar isso.”
A resposta,
tanto quanto a reação serena à notícia que havíamos recebido, surpreendeu-me.
Surpreendeu-me e fez-me pensar se minha mãe compreendera a questão em toda sua
extensão e delicadeza. Sim, ela havia compreendido tudo muito bem; claro que
sim! Apenas eu, mais medrosa e dramática do que ela, não havia compreendido até
aquele momento a força e a coragem com as quais minha mãe sempre enfrentou e enfrenta
a vida. Foi assim, simples e tranquila a resposta de minha mãe a minha pergunta
depois de recebermos, juntas, a confirmação de seu diagnóstico: Câncer no
pulmão em estágio avançado.
Apesar de
parecer estranha tanta calma, estamos calmos. Esta é uma reação que eu jamais
esperava ter, porém, a verdade é que há apenas duas opções diante de tal problema:
sentar e chorar ou pôr a cabeça e o coração no lugar e lutar com todas as armas
que temos até quando pudermos contra o mal que nos atingiu. Choramos, agora
estamos de pé e seguimos em frente. Assim será.
Assim será,
porém sinto-me pequena e impotente feito criança a descobrir que o Bicho Papão
realmente existe. Meu medo de menina, hoje, é real e o fato de que somos todos
mortais torna-se palpável como nunca fora antes. O bicho não é grande e nem
vive debaixo da cama ou no armário, entretanto, assombra-me. Silencioso, ele
vive escondido dentro do corpo de minha mãe.
Por estes dias,
dias que se parecem com um sonho indesejado, sinto uma mescla de sentimentos
incompatíveis. Aceito o que está a acontecer, mas dá-me raiva que tais merdas
aconteçam com pessoas que não as merecem. Minha mãe não merecia nada disso; de
jeito nenhum. E lembro-me do Diego, meu
sobrinho de 5 anos, menino de personalidade forte e alma pura que não se
conforma com qualquer tipo de injustiça. Sei bem o que ele me diria num momento
como este e, agora, faço minhas as palavras dele. “É uma filha da puta esta
doença!” É, Digo, ela é sim.
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