A viver dentro de dois
braços, entre abraços
A partir de amanhã, bem
cedo, tiro férias de mim mesma por quase quinze dias numa espécie de refresco
para a alma. Terei dias nos quais me esquecerei um pouco do drama existencial,
quando deixarei para lá as neuroses e o meu mau humor, dias onde não
encontrarei os tais pêlos que cismo em achar nos ovos. A partir de amanhã deixo
um pouco de ser Mari para ser, orgulhosamente, madrinha.
Não é a primeira vez que
a tal dádiva ocorre, é verdade. E a verdade é que até já escrevi sobre a tal aventura
encantadora por cá. Contudo, o mesmo sempre será diferente já que a vida, como
o mar que vejo da minha janela, segue sendo a mesma e, concomitantemente, muda
sempre e chega como novidade diante da gente. Pois... Não sei se mudam os olhos
ou a paisagem diante deles, mas basta parar um pouco para perceber que todo
santo dia o azul do mar está diferente.
E assim, diferentes serão
estas férias de mim mesma com os meus pequenos porque nem eles, e muito menos
eu, somos os mesmos. E entre todas as mesmas coisas antigas que chegam de
maneira inédita na vida, sei que haverá muitos abraços. Abraços com manha, abraços
alegres, abraços cheios de sono, abraços feitos de puro carinho; abraços que
farão com que meus braços sintam-se mais importantes e amados do que
normalmente eles são.
E foi pensando em tais
abraços futuros com os meus miúdos no meu colo, (e eu tão contente por tê-los ao
colo), que percebi que em realidade quem ganha o conforto e o carinho nestes
momentos sou eu. Pois que, se a gente parar para pensar, a verdade é que é a
nossa alma que ganha os tais abraços dos seus pequenos. Porque ali, entre os jovens
bracinhos, some o mundo e todos os nossos problemas e nós somos, simplesmente, felizes.
Felizes como nunca fomos dantes abraçados por um amor que só conhecemos no
momento no qual chegam ao nosso colo os nossos pequenos.
Então, a partir de
amanhã, sou madrinha a sorrir, parva e apaixonada, durante todo o dia. Que
venham as férias d’alma mais uma vez!
“Oriol Vall, que se ocupa de los
recién nacidos en un hospital de Barcelona, dice que el primer gesto humano es
el abrazo. Después de salir al mundo, al principio de sus días, los bebés
manotean, como buscando a alguien.
Otros médicos, que se ocupan de
los ya vividos, dicen que los viejos, al fin de sus días, mueren queriendo
alzar los brazos.
Y así es la cosa, por muchas
vueltas que le demos al asunto, y por muchas palabras que le pongamos, así es
la cosa. A eso, así de simple, se reduce todo: entre dos aleteos, sin más
explicación, transcurre el viaje”.
Eduardo Galeano, “El viaje”,
Bocas del tiempo (Siglo XXI)