Estamos a olhar para baixo e nada de enxergar o fundo do poço
que os brasileiros, como uma nação, por displicência, preguiça ou má fé
profunda andam a cavar há alguns anos. Hoje, já não nos vemos mais como um país
do futuro, mas como um país de futuro incerto. Uma nação onde a noção de certo
e errado ganha contornos flexíveis demais, tal ginasta russa, dando vida ao
nosso “jeitinho brasileiro” que inviabiliza uma boa vida para todos nós.
Somos um país burocrático e corrupto, violento e injusto, uma
nação que desdenha da educação e idolatra o que não tem valor algum. Somos
fúteis e superficiais, em nossa grande maioria, com nossa pantomima latina do
jeito norte-americano de ser; imitação barata “made in China” que nos chega via
Paraguay e, hoje em dia, é comercializada por milhares de coreanos que são os
novos sírio-libaneses do século 21. Somos uma imitação de nação.
Portanto, não chega a causar completo estranhamento que falte
conteúdo na política brasileira, e que sobre a ganância naqueles que deveriam
gerenciar bem as riquezas da nação. Os que deveriam fazer deste país um lugar
onde a qualquer um gostaria de viver, enriquecem a si mesmo e nos devoram, tal
vermes, por dentro. Afinal, nossos políticos são em grande parte o reflexo de
quem somos nós, talvez não reflitam a cada um de nós individualmente, é certo. Contudo,
não há como rechaçar a máxima que nos diz que os governantes sempre serão, em
grande medida, um reflexo daqueles que são por eles governados. Assim somos nós
e nossa omissão leviana e acomodada, nossa moralidade de extrema flexibilidade
cobra-nos seus juros, certamente.
Ajudamos a cavar o poço onde nos encontramos por omissão,
porque somos politicamente apáticos e displicentes, e agora nos deparamos com
um buraco que parece não ter fim; nossa terrível criação nos engoliu. Contudo,
e mesmo que todo o sangue brasileiro fosse mesmo feito de sangue de barata, seria
impossível suportar aos absurdos que vemos e ouvimos diariamente e, por fim,
nos irritamos. Finalmente, estamos incomodados e à beira de sair pelas ruas
mais uma vez para gritar que este país terá que mudar.
A mudança será demorada, difícil, porém, certamente, virá porque
não há mais como aceitar o país no qual vivemos hoje. Tem sido difícil
assimilarmos as cifras perdidas para a corrupção e, ao mesmo tempo, vivermos em
cidades sem segurança, saúde e educação. Tem sido extremamente complicado
suportarmos aos Senhores de Brasília, os ofendidos Collor de Mello e Eduardo
Cunha entre outros, clamando, donos de suas deslavadas caras de pau, por
justiça e democracia por terem sido citados no processo da Lava-Jatos como
chefes de quadrilha. Tem sido doloroso assistirmos à Senhora Presidente, ao seu
partido e seus aliados, a comandar nosso país e sua economia de maneira ineficiente,
equivocada, e em benefício próprio e nada mais.
E como já corre à boca pequena em Terra Brasilis, neste país
não há mais partidos políticos, mas sim, quadrilhas organizadas e oficiais. Em
1904 o cronista americano O. Henry (William Sydney Porter) criou o termo "República das Bananas" referindo-se a Honduras, e que descrevia os governos latinos corruptos e autoritários. Termo antigo que nos ofende
muito, e que anda a ecoar por muitos países latino-americanos, como nós, por estes dias.
del baile de los
que sobran, de la danza tuya y mía,
levantarnos para
decir "ya basta"
Ni África, ni
América Latina se subasta,
con barro, con
casco, con lápiz, zapatear el fiasco
provocar un
social terremoto en este charco.
Todos los
callados (todos),
Todos los
omitidos (todos),
Todos los invisibles
(todos),
Todos, to, to,
todos,
Todos, to, to,
todos
Nigeria, Bolivia,
Chile, Angola, Puerto Rico y Tunisia, Argelia,
Venezuela,
Guatemala, Nicaragua, Mozambique, Costa Rica, Camerún, Congo, Cuba, Somalía,
México, República Dominicana, Tanzania, fuera yanquis de América latina, franceses,
ingleses y holandeses, yo te quiero libre Palestina.
E, de repente, alguém me reencontra (graças às modernidades
tecnológicas que usamos para fazermos propaganda de nós mesmos) depois de muito
tempo. “Faz uns 20 anos!”, diz uma ex-aluna. E eu sinto que um trilhão de novos
cabelos brancos brotou de uma só vez na minha cabeça. Zaz! Pensei num palavrão;
na verdade eu o disse mesmo, contudo, aqui, vamos manter a compostura e abusar
dos eufemismos: Caramba! Pois, e não é que é?! Como tanto tempo pode ter
passado sem que eu me desse conta da enormidade do tempo contado em anos; 20.
Imagina se pensarmos em meses, dias, horas! Dá-nos mesmo a tal vontade de sair
correndo. Quem sabe se correndo muito conseguimos fugir do tempo, não? Não.
Não há como escapar do glutão Sr. Cronos que nos devorará a
todos nós no final das contas, fato. Nem mesmo Usain Bolt, pilhado por qualquer
substância química sonhada, conseguiria fugir do tempo e, portanto, nem adianta
mexer um pé em qualquer direção. Fazer o quê?
Bom, por sorte, sempre podemos, infamemente, citar a Einstein para nos
lembrarmos de que o Tempo é relativo. E ele é relativo mesmo, não é?! É! Exemplo
- Tenho certeza que há uma grande diferença entre o misterioso número que marca
minha idade nos documentos oficiais e a idade que minha cabeça pensa ter. Sei
que o tal número é reforçado vez ou outra pelas dores que sinto e por um
cansaço que não sei de onde vem, porém, a alma e o espírito continuam meninos. Por
isso, faz-se mandatória uma média aritmética para acabarmos com a discussão;
certo? Afinal, o meio-termo será sempre uma boa solução para apaziguarmos
perrengues, querelas e afins.
E para aqueles que ainda não chegaram lá, os que não dobraram
o “Cabo das Tormentas humano”, os 40, e que devem achar ridículo tal subterfúgio.
Vale avisar que apesar de notarmos as novas rugas e as demais mazelas do tempo “todo-santo-dia”,
a verdade é que jamais sentimos que temos a tal idade que temos veramente. Mesmo
que por fora os números gritem, dentro da gente grita a alma também; e ela
sempre grita que ainda há muito a fazer. Seremos sempre, numa bela farsa
poética, meninos fingindo que já somos tão responsáveis como eram aos nossos
olhos os nossos pais.
Apesar de eu não gostar nada da tal idéia de ficar velha, e
de não ter certeza se n’algum dia aceitarei a tal idade, (Deus, como isso é
difícil para as meninas! - para esta menina.). Gosto muito de ver a passagem do
tempo já que com ela vejo a vida a fazer-se. Por estes dias ando a ver meus
filhotes mais velhos às voltas com seus primeiros amores e suas questões
adolescentes num mundo recém descoberto por eles. Vejo meus afilhados a
abandonar a primeira infância e a ganhar uma racionalização, uma lógica, que
parece chegar muito cedo; e meu colo já sente saudades deles. Assisto de
camarote ao nascimento de meus sobrinhos pequeninos ao mesmo tempo em que tenho
a oportunidade de ser um pouquinho mãe dos meus pais todas as vezes que cuido
um pouco deles. Hoje, posso contar o tempo de minhas amizades em décadas e
isso, tudo isso, é bom demais. Então, mesmo que meio a contragosto, seja
bem-vindo nosso devorador de homens!