O Devorador de Homens
E, de repente, alguém me reencontra (graças às modernidades
tecnológicas que usamos para fazermos propaganda de nós mesmos) depois de muito
tempo. “Faz uns 20 anos!”, diz uma ex-aluna. E eu sinto que um trilhão de novos
cabelos brancos brotou de uma só vez na minha cabeça. Zaz! Pensei num palavrão;
na verdade eu o disse mesmo, contudo, aqui, vamos manter a compostura e abusar
dos eufemismos: Caramba! Pois, e não é que é?! Como tanto tempo pode ter
passado sem que eu me desse conta da enormidade do tempo contado em anos; 20.
Imagina se pensarmos em meses, dias, horas! Dá-nos mesmo a tal vontade de sair
correndo. Quem sabe se correndo muito conseguimos fugir do tempo, não? Não.
Não há como escapar do glutão Sr. Cronos que nos devorará a
todos nós no final das contas, fato. Nem mesmo Usain Bolt, pilhado por qualquer
substância química sonhada, conseguiria fugir do tempo e, portanto, nem adianta
mexer um pé em qualquer direção. Fazer o quê?
Bom, por sorte, sempre podemos, infamemente, citar a Einstein para nos
lembrarmos de que o Tempo é relativo. E ele é relativo mesmo, não é?! É! Exemplo
- Tenho certeza que há uma grande diferença entre o misterioso número que marca
minha idade nos documentos oficiais e a idade que minha cabeça pensa ter. Sei
que o tal número é reforçado vez ou outra pelas dores que sinto e por um
cansaço que não sei de onde vem, porém, a alma e o espírito continuam meninos. Por
isso, faz-se mandatória uma média aritmética para acabarmos com a discussão;
certo? Afinal, o meio-termo será sempre uma boa solução para apaziguarmos
perrengues, querelas e afins.
E para aqueles que ainda não chegaram lá, os que não dobraram
o “Cabo das Tormentas humano”, os 40, e que devem achar ridículo tal subterfúgio.
Vale avisar que apesar de notarmos as novas rugas e as demais mazelas do tempo “todo-santo-dia”,
a verdade é que jamais sentimos que temos a tal idade que temos veramente. Mesmo
que por fora os números gritem, dentro da gente grita a alma também; e ela
sempre grita que ainda há muito a fazer. Seremos sempre, numa bela farsa
poética, meninos fingindo que já somos tão responsáveis como eram aos nossos
olhos os nossos pais.
Apesar de eu não gostar nada da tal idéia de ficar velha, e
de não ter certeza se n’algum dia aceitarei a tal idade, (Deus, como isso é
difícil para as meninas! - para esta menina.). Gosto muito de ver a passagem do
tempo já que com ela vejo a vida a fazer-se. Por estes dias ando a ver meus
filhotes mais velhos às voltas com seus primeiros amores e suas questões
adolescentes num mundo recém descoberto por eles. Vejo meus afilhados a
abandonar a primeira infância e a ganhar uma racionalização, uma lógica, que
parece chegar muito cedo; e meu colo já sente saudades deles. Assisto de
camarote ao nascimento de meus sobrinhos pequeninos ao mesmo tempo em que tenho
a oportunidade de ser um pouquinho mãe dos meus pais todas as vezes que cuido
um pouco deles. Hoje, posso contar o tempo de minhas amizades em décadas e
isso, tudo isso, é bom demais. Então, mesmo que meio a contragosto, seja
bem-vindo nosso devorador de homens!
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