A Língua
Se a língua que habita minha boca
fosse outra
seria muito mais dócil e tranquila a despedida
e todo o resto desta vida.
Eu, de ti, não sentiria este enxame de saudades
porque as tais saudades nem sequer existiriam,
e não poderiam habitar, gigantescos baobás,
os cantos mais profundos, escuros e tortuosos das minhas
terras
até onde os olhos não podem ver mais.
Porém, cá dentro mora o Português de Pessoa,
das canções de Jobim,
da corajosa e dolorida Flor Bela que foi uma flor-menina feita
de poesia.
E com ela, com esta tão famigerada língua,
vieram o amor sem fim, as saudades doídas e esta teimosia
latina
de achar que você nasceu para mim.
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