Uma excelente novidade constante
Desde muito jovem acostumei-me a buscar
sons novos para meus ouvidos. Novas canções saciam-me a alma, sempre foi assim.
E fossem elas provenientes de músicos muito jovens ou de outros já esquecidos
pelo tempo, clássicas ou futuristas, não me importava. De Mozart a Sex Pistols,
passando por Martinho, Jobim, Kiss, Elvis, Chico, Billie e Elis; tudo me
interessava. Adorava montar as minhas
fitas, conseguir letras de canções e conhecer tudo o que pudesse chegar a mim.
Com a internet abriram-se as
fronteiras e a vida ficou muito mais fácil para nós, ao passo que muito mais
complexa para os músicos que tiverem que reaprender como sobreviver da música. Assim,
em minha missão de vida descompromissada em 2009 tropecei nos Da Weasel e seu letrista e vocalista,
Carlos Nobre Neves, e apaixonei-me.
Para alguém que conhecia apenas
pouca coisa de os Madredeus graças ao cinema, Roberto Leal e Amália Rodrigues,
ouvir as canções dos Da Weasel,
principalmente por suas letras, abriu-me os olhos a um país antes completamente
ignorado. Portugal e sua música existem para mim devido às letras e à voz de
Carlão, e este é um feito, além de inesperado, pra lá de bonito. Afinal, se ouço
e divulgo como posso hoje em dia aos Buraka, aos Orelha Negra, Mariza, Sara
Tavares e muito mais, este é um mérito deste
senhor.
Eclético e talentoso, despretensioso
e curioso, Carlão transformou-se através dos anos e, da mesma forma, sua música
moldou-se aos novos tempos menos sisudos de sua música nacional profundamente
influenciada por beats, ritmos africanos e até, quiçá, por um quê latino e
tropical. Desta feita, o senhor renova-se mais uma vez e lança música para
dançar, leve, de fácil assimilação e que tem um propósito que, apesar de
parecer não tão nobre, tem seu papel fundamental: música também deve ser feita
para que com ela possamos nos divertir a valer.
Nesta semana ganhamos Agulha no Palheiro que causa algum estranhamento para os ouvintes mais fiéis e
antigos de Carlão. Eu sei. Apesar disso, ela agrada por sua leveza, por ser tão
solar e por cumprir o seu papel de maneira muito competente e inteligente. Agulha no Palheiro é música para dançar
e para ser cantada por toda a gente. Como afirma Carlão há anos, ele faz música
para as mais diversas situações, com vibes tão variadas e distintas que fica um
tanto difícil rotulá-lo. Oxalá ele sempre continue assim – uma excelente
novidade constante. Nós esperamos pelo disco novo e por muito mais. Venha ele!
Trecho da Canção Amor, Escárnio e
Maldizer de 2007.
À vontade do freguês, consoante a situação:
temos Amor Escárnio e Maldizer, são os pratos do dia
Para acabar de vez com a monotonia
A epifania surge quando a vontade urge
Necessária, ela é forte e voluntária
Música para dançar, para sentir e para amar
Música para lutar, criticar e ponderar
Música para tocar, para revolucionar
Para nos trazer à tona para poder respirar
Vem buscar...
AGULHA NO PALHEIRO (feat. Bruno Ribeiro)
CARLÃO·QUARTA, 1 DE MARÇO DE 2017
Pára-me o coração,
sem noção da direcção do balcão
a minha ânsia não vê um travão
não digo pão só perdão
Tenho a sensação de não ter chão
tou na tracção de um furacão
Não é atracção, isto é paixão
daqui ao caixão
Ela bate certo
no peito aberto
aponta-me o caminho
num futuro incerto
Baby aproxima,
faço-te uma rima
faço um disco inteiro:
tu és a agulha no palheiro
(aguenta coração) baby aproxima
(aguenta coração) faço-te uma rima
(aguenta coração) faço um disco inteiro
(aguenta coração) tu és a agulha no palheiro
Red bull e um shot
casa tá ao barrote
camarim é camarote
pode ser que ninguém note
Faço o impossível
para isto ser possível
sou irredutível
nem sequer é discutível
Enquanto o povo dança
o meu olhar alcança
a futura dona da herança
na minha poupança
ela avança
escondo a minha pança
mostro a confiança
que roubei ao segurança
Ela bate certo
no peito aberto
aponta-me o caminho
num futuro incerto
baby aproxima,
faço-te uma rima
faço um disco inteiro:
tu és a agulha no palheiro
(aguenta coração) baby aproxima
(aguenta coração) faço-te uma rima
(aguenta coração) faço um disco inteiro
(aguenta coração) tu és a agulha no palheiro
Meu Deus não sei se consigo
cara séria quando falo contigo
cá por dentro rio como um perdido
mega nervoso faço um pedido
“o teu nome e número por favor”
Levo-te a casa a pé porque tá calor
se quiseres um pequeno almoço superior
posso fazê-lo para ti sem qualquer pudor