Ando a sentir-me sem pátria, órfã de
pai e mãe no que tange a minha nacionalidade. Perdida, feito astronauta à
deriva no espaço, numa terra onde dia após dia torna-se cada vez mais difícil para
quase todo cidadão sentir-se confortável, percebo que já não sei mais como
definir a nós mesmos. O que significa atualmente ser brasileiro?
Éramos cordiais, já fomos conhecidos como
um povo feliz e gentil; não? Hoje somos egoístas e avaros, violentos e cínicos.
Somos um grande amontoado de gente à espera do momento no qual possamos, como
diria minha avó, passar a perna em alguém. Hoje, por esses dias que correm,
sinto-me profundamente envergonhada e decepcionada com o país que construímos. Com
o país que somos. O país do futuro, aquele que tinha tudo para ser uma potência
e um bom lugar para qualquer um viver, transformou-se numa terra sem lei; nosso
Bang-Bang à brasileira.
Os níveis de corrupção e ineficiência do
Estado brasileiro clientelista em todas as suas órbitas criaram uma situação
surreal onde, simplesmente, nada funciona como deveria ser. Onde absurdos
ocorrem todo santo dia e já não causam grandes estranhamentos em quase ninguém.
E assim, calejados por tantos disparates, estamos nos tornando um povo
insensível à dor alheia, e isso é muito pior do que ficarmos sem dinheiro. A
mim tem me parecido que estamos perdendo o nosso caráter de vez, não?
Na semana passada no estado do Espírito Santo,
sem policiamento nas ruas devido a uma greve dos policiais militares, cidadãos
comuns participaram de uma onda de saques ao comércio de várias cidades pelo
simples fato de que não havia ninguém para detê-los. O que nos leva a conclusão
de que o brasileiro comum não rouba ao outro brasileiro comum apenas porque tem
medo de ser preso e não porque isso, por princípio, é errado? Somos, de fato, um
bando de aproveitadores imorais, aquele tipo de gente que tira proveito dos
mais fracos, dos que não têm como defender-se, e ponto final?
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