terça-feira, 27 de junho de 2017

Dois



Dois

Somos dois,

um par que rima, nascidos para o bolero dramático,

descompassado.

Um para cá,                                                                                      o outro

                                       para lá.

Peça de teatro com menos de um ato:

a puta e o preto,

belo amor inesquecível que não terá fim, pois nunca teve

seu começo.

Ode a nossa corajosa covardia!

Boca seca, sem saliva, imóvel grita as palavras que antes

igualmente

não foram ditas. Meus silêncios,

                                                                                                teus silêncios.

Minha loucura e a tua prudência tão bela, santa e poética

dizem mais sobre nós do que toda a prosa e a poesia que sorrateiras

escaparam da tua boca, que sem rumo

escorregaram pelos meus dedos.

Todos os nossos dias somados formam a enormidade de um segundo;

o infinito ínfimo.

Dois.

sábado, 24 de junho de 2017

EL FUTURO ES NUESTRO



El Futuro es Nuestro

Ahora tienen suerte los que nunca tienen suerte
Y los que murieron podrán evitar la muerte
Las cartas me hablan de lo lindo y de lo feo
Tus manos las leo y te cuento lo que veo

Estan son mis predicciones pa' que no nos tropecemos
El futuro es nuestro cuando ya lo conocemos
En el futuro ya no habrá carne de vaca (carne de vaca)
En las granjas ya no quedan ni las gordas ni las flacas

En el futuro comeremos cucarachas como en China
Porque ocupan poco espacio y tienen mucha proteína
El país con más insectos controlará las naciones
Por eso la nueva potencia mundial (¡Será México cabrones!)

Y las mujeres dominarán toda la población
Porque nunca perderán una cabrona discusión
En el futuro los hombres caerán en menstruación
Y nunca nos entenderán aunque tengamos la razón

Los policías racistas seguirán siendo gente mala
Pero con tanto tiro los negros se volverán inmune a las balas
Al final será una raza nueva la que nos represente
Porque los extraterrestres tendrán sexo con la gente

El futuro de este verso es que el coro viene más duro
Yo predigo que en dos segundos brincarán como canguros

[Coro]
El futuro es nuestro
El fu- El futuro es nuestro
El- El futuro es nuestro
El fu- El futuro es nuestro

[Verso 2]
En el futuro yo calculo que tendremos internet en todos lados
Porque naceremos con Wi-Fi en el culo
Los lobos ya no aúllan y los monjes no meditan
Porque los terroristas explotarán la luna con dinamita

En el futuro descubren semen en los evangelios oficiales
¡Y confirman que la biblia fue escrita por homosexuales con desordenes mentales!
Empezando por Mateo (¡Un caos!)
Los religiosos se convierten en ateos

Y baja Cristo del cielo a entregarles amor propio
Y se dan cuenta de que es negro y de que está fumando opio
Y a todo el mundo le da ira, hasta al Papa le dio ira
A los creyentes les dio más porque todo era mentira

Ya el pecado no es pecado, ya no somos pecadores
Somos gente normal, porque normal son los errores
Aunque huela mal, abraza al que tienes al lado
Los que no brinquen ahora se quedarán en el pasado

[Outro]
Hoy es nuestro momento para que el presente evolucione
Lo que siento ahora es lo que siento y que el futuro nos perdone
Hoy es nuestro momento para que el presente evolucione

Lo que siento ahora es lo que siento y que el futuro nos perdone

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A visão



A visão

Ana entrou na rua que não era mais a sua e estacionou o carro preto à esquerda do edifício no número 282, próximo à esquina. Uma árvore baixa, ainda pequena, encobria um pouco o automóvel e impedia que a motorista fosse vista da calçada. A manhã de outono estava agradável; airosa com suas cores delicadas da luz morna de um sol que ainda não despertara completamente. Ana amava as manhãs como esta, de céu azul claro quase sem nuvens, e sentia-se em paz. Quase completamente feliz.

Eram 8h de uma quarta-feira lenta e Ana pensava em tudo que teria que fazer naquele dia enquanto aguardava. Adiantara a saída de casa, não muito longe dali, com a desculpa de que tinha um compromisso de trabalho cedo pela manhã. Mentira, porém, sem remorsos, se despediu do namorado como de costume. Jantariam juntos naquela noite antes do jogo de futebol. Eram muito boas as noites caseiras de quarta-feira.

Ana gostava do namorado, até bastante, apesar de não ter planos claros e objetivos estabelecidos com ele. Moravam juntos há alguns meses e entendiam-se bem. A relação poderia durar muito, para sempre. Ela poderia também acabar no ano que logo vem e nada mudaria; as manhãs de outono continuariam agradáveis e belas para ela e a vida seguiria tranquila.

Todas as quartas essa era a rotina clandestina de Ana. Despertar um pouco mais cedo e sem preguiça, arrumar-se bem para estar bonita, inventar um motivo plausível para a tal saída-fora-de-hora, prometer um bom jantar para antes da partida de futebol e desviar-se de seu caminho usual para ficar parada por alguns minutos, meia hora, numa esquina conhecida da cidade.  Ela sabia que as mentiras não eram coisa boa; mesmo as bobas como essa. Afinal, e no final das contas, ela nada faria para além de olhar. Que mal há em olhar?

Como todos os dias, entre 8h e 8:20h da manhã o portão do edifício se abriu. De camiseta branca e larga, bermudas longas e óculos escuros ele saiu, detendo-se um pouco para uma breve conversa com o porteiro. Ana observou com atenção. Ele estava bem, parecia alegre e bem disposto. Os tênis eram novos, e ele levava seu sorriso largo e divertido; o sorriso mais bonito que seus olhos já tinham visto na vida. Ana sentia tantas saudades das palavras e da voz daquele menino; do seu menino.


João despediu-se do porteiro e seguiu à direita para a estação de Metrô caminhando sem pressa como de costume fazia. Ana observou-o até que dobrasse a esquina. Ele estava lindo; estaria sempre lindo aos olhos dela. Ligou o carro e, apesar do pesar das manhãs de quarta-feira, ela sentia-se bem. Ele estava bem e ela podia seguir tranquila por mais uma semana. À noite haveria futebol.

domingo, 18 de junho de 2017

Manhãs de Domingo


Manhãs de Domingo

Hoje pela manhã, logo depois de acordar, peguei-me arrumando a cozinha de um sábado à noite. Algumas garrafas de bebida a serem lavadas, o lixo a ser posto para fora, alguns pratos e copos na pia. Nenhuma novidade fosse esse lixo algo que eu produzira. Não era. Doente, deitei-me cedo, por volta das 22:30h, e dormi profundamente até a manhã de domingo.

A pequena bagunça pertencia aos meus miúdos crescidos e amigos. Coisa pouca, verdade. Contudo peguei-me a pensar que injustiça cruel era aquela. Por que afinal deveria eu limpar o lixo alheio? Sim, tenho meus rompantes egoístas com uma frequência assustadora. Uma vergonha! Eu sei. Porém, como de costume em meus diálogos solitários, logo me veio à cabeça a resposta certa para tal questão. Perguntei-me quantas vezes meus pais tinham feito este mesmo gesto por mim. Quantas vezes minha mãe e meu pai limparam a minha bagunça? Bem, não sei. Dezenas de vezes com certeza, centenas de vezes, talvez.

O fato é que mesmo sem de fato o ser, deixei de fazer o papel de filha na história da minha vida, da nossa vida, e cumpro há algum tempo o papel de mãe. Uma mãe torta, fruto de uma família um tanto fora do comum, concordo. Entretanto, não percebo que o amor pudesse ser maior e mais bonito se a família tivesse sido formada de outra maneira. Amo aos meus miúdos; eles são meus também, tanto quanto eu sou deles, e isso, nada, nem mesmo todo o tempo do mundo, poderá mudar.

Nessa semana muitas famílias sofreram e sofrem com dois terríveis incêndios que mataram mais de uma centena de pessoas. Famílias inteiras morreram presas em suas casas em Londres porque à segurança do edifício onde viviam pouca atenção e importância foi dada. Famílias inteiras desapareceram nas estradas de Portugal na tentativa de escapar das chamas de um incêndio florestal sem culpados e sem precedentes. E eu, na segurança da minha manhã de domingo, não consigo medir o tamanho da dor que eu sentiria em situações como estas.


Por isso, essa semana, mais do que antes, sinto-me bem, mais feliz do que nunca, em ter que organizar a bagunça que os pequenos, e os não tão pequenos deixam pela casa sempre que estão aqui. Eles estão por aqui, eles estão bem; e isso é, fundamentalmente, a única coisa que importa nesta vida. Que venham muitas e muitas manhãs de domingo como esta! Amém. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Palavras



Palavras


Verbos, substantivos, artigos...

Um conjunto absurdo de palavras foi usado

para dizer tanto;

e faltou-me perceber que eu ainda  tinha que aprender a falar.

Enganei-me.

Uma montanha absurda de adjetivos cheios de significado

e carinho

foi usada; desperdiçada em frases que se perderam pelo caminho.

Erro de mensageiro,

faltou-me o discernimento para caminhar pelo lado correto da calçada.

Pois sem muito planejar, crente,  fui para onde me guiavam

os sentimentos.

À revelia de toda e qualquer razão, segui

para perder-me, sozinha,

em meu mundo feito de um labirinto de

palavras bonitas.

domingo, 11 de junho de 2017

Dias de Lagarta



Dias de Lagarta

A nossa vida muda porque nós assim queremos. Pois, isso é um fato. Porém é verdade, também, que antes de a mudarmos, por ela somos, à revelia, transformados. Sem percebermos o que realmente está a acontecer, feito lagarta, mudamos lenta e definitivamente. De modo que, depois de algum tempo, já não somos mais os mesmos e a vida que ainda vivemos já não nos cabe mais.

E apesar de todos os medos, apesar do apego que temos pela tão amada rotina, apesar de sentirmo-nos em casa com a vida conhecida, apesar de o amor ser ainda verdadeiro por quem está em nossa companhia. Afinal, apesar de todos os pesares que as mudanças trazem, chega o instante de mudar.

Bom, pode ser que a vida não seja desta forma para todos nós. Pode ser. Porém, para mim me parece que a mudança é algo tão inerente à vida que sem ela a tal vida não seria possível. Sem as mudanças sentir-me-ia parada no tempo, estaria perto do fim. E esse não é o tipo de vida que quero para mim.

Os dias que vivemos no Brasil, que eu vivo, são tempos de mudança nos quais o futuro mostra-se mais incerto e nebuloso que dantes se mostrava.  E eu, apesar de sentir-me um tanto quanto assustada, sinto-me mais do que tudo curiosa com o que está por vir. Pois, toda mudança dá-me medo, o mesmo medo que me dão os aviões, (ou seja, um quase pânico), mesmo assim, quero sempre que a vida para frente caminhe como continuo a querer viajar. Porque os medos, até os muito grandes, foram feitos para a gente superar.


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa


terça-feira, 6 de junho de 2017

Pequena



Pequena


Ando quieta, calada.

A exercitar minhas qualidades de bicho do mato,

pouco simpática,

dei por mim a economizar frases, sílabas e palavras.

Inseto pequeno tem por obrigação a ciência de seu peso e de seu tamanho

desimportante  frente a tantos outros bichos

tão maiores e mais visíveis do que ele.

Bichos de longos braços e pés  grandes.

Finjo-me de morta. Aranha de pernas encolhidas,

tortas,

observo,

sem qualquer vontade para o movimento,

o passar arrastado do tempo.

Imóvel, de gente tornei-me

pequena pedra.