sexta-feira, 30 de junho de 2017
terça-feira, 27 de junho de 2017
Dois
Dois
Somos dois,
um par que rima, nascidos para o bolero dramático,
descompassado.
Um para cá, o
outro
para lá.
Peça de teatro com menos de um ato:
a puta e o preto,
belo amor inesquecível que não terá fim, pois nunca teve
seu começo.
Ode a nossa corajosa covardia!
Boca seca, sem saliva, imóvel grita as palavras que antes
igualmente
não foram ditas. Meus silêncios,
teus silêncios.
Minha loucura e a tua prudência tão bela, santa e poética
dizem mais sobre nós do que toda a prosa e a poesia que sorrateiras
escaparam da tua boca, que sem rumo
escorregaram pelos meus dedos.
Todos os nossos dias somados formam a enormidade de um
segundo;
o infinito ínfimo.
Dois.
sábado, 24 de junho de 2017
EL FUTURO ES NUESTRO
El Futuro es Nuestro
Ahora
tienen suerte los que nunca tienen suerte
Y los
que murieron podrán evitar la muerte
Las
cartas me hablan de lo lindo y de lo feo
Tus
manos las leo y te cuento lo que veo
Estan
son mis predicciones pa' que no nos tropecemos
El
futuro es nuestro cuando ya lo conocemos
En el
futuro ya no habrá carne de vaca (carne de vaca)
En las
granjas ya no quedan ni las gordas ni las flacas
En el
futuro comeremos cucarachas como en China
Porque
ocupan poco espacio y tienen mucha proteína
El país
con más insectos controlará las naciones
Por eso
la nueva potencia mundial (¡Será México cabrones!)
Y las
mujeres dominarán toda la población
Porque
nunca perderán una cabrona discusión
En el
futuro los hombres caerán en menstruación
Y nunca
nos entenderán aunque tengamos la razón
Los
policías racistas seguirán siendo gente mala
Pero
con tanto tiro los negros se volverán inmune a las balas
Al
final será una raza nueva la que nos represente
Porque
los extraterrestres tendrán sexo con la gente
El
futuro de este verso es que el coro viene más duro
Yo
predigo que en dos segundos brincarán como canguros
[Coro]
El
futuro es nuestro
El fu-
El futuro es nuestro
El- El
futuro es nuestro
El fu-
El futuro es nuestro
[Verso
2]
En el
futuro yo calculo que tendremos internet en todos lados
Porque
naceremos con Wi-Fi en el culo
Los
lobos ya no aúllan y los monjes no meditan
Porque
los terroristas explotarán la luna con dinamita
En el
futuro descubren semen en los evangelios oficiales
¡Y
confirman que la biblia fue escrita por homosexuales con desordenes mentales!
Empezando
por Mateo (¡Un caos!)
Los
religiosos se convierten en ateos
Y baja
Cristo del cielo a entregarles amor propio
Y se
dan cuenta de que es negro y de que está fumando opio
Y a
todo el mundo le da ira, hasta al Papa le dio ira
A los
creyentes les dio más porque todo era mentira
Ya el
pecado no es pecado, ya no somos pecadores
Somos
gente normal, porque normal son los errores
Aunque
huela mal, abraza al que tienes al lado
Los que
no brinquen ahora se quedarán en el pasado
[Outro]
Hoy es
nuestro momento para que el presente evolucione
Lo que
siento ahora es lo que siento y que el futuro nos perdone
Hoy es
nuestro momento para que el presente evolucione
Lo que
siento ahora es lo que siento y que el futuro nos perdone
quarta-feira, 21 de junho de 2017
A visão
A visão
Ana entrou na
rua que não era mais a sua e estacionou o carro preto à esquerda do edifício no
número 282, próximo à esquina. Uma árvore baixa, ainda pequena, encobria um pouco
o automóvel e impedia que a motorista fosse vista da calçada. A manhã de outono
estava agradável; airosa com suas cores delicadas da luz morna de um sol que
ainda não despertara completamente. Ana amava as manhãs como esta, de céu azul
claro quase sem nuvens, e sentia-se em paz. Quase completamente feliz.
Eram 8h de uma
quarta-feira lenta e Ana pensava em tudo que teria que fazer naquele dia
enquanto aguardava. Adiantara a saída de casa, não muito longe dali, com a
desculpa de que tinha um compromisso de trabalho cedo pela manhã. Mentira,
porém, sem remorsos, se despediu do namorado como de costume. Jantariam juntos
naquela noite antes do jogo de futebol. Eram muito boas as noites caseiras de
quarta-feira.
Ana gostava do
namorado, até bastante, apesar de não ter planos claros e objetivos estabelecidos
com ele. Moravam juntos há alguns meses e entendiam-se bem. A relação poderia durar
muito, para sempre. Ela poderia também acabar no ano que logo vem e nada
mudaria; as manhãs de outono continuariam agradáveis e belas para ela e a vida
seguiria tranquila.
Todas as quartas
essa era a rotina clandestina de Ana. Despertar um pouco mais cedo e sem
preguiça, arrumar-se bem para estar bonita, inventar um motivo plausível para a
tal saída-fora-de-hora, prometer um bom jantar para antes da partida de futebol
e desviar-se de seu caminho usual para ficar parada por alguns minutos, meia hora,
numa esquina conhecida da cidade. Ela sabia
que as mentiras não eram coisa boa; mesmo as bobas como essa. Afinal, e no
final das contas, ela nada faria para além de olhar. Que mal há em olhar?
Como todos os
dias, entre 8h e 8:20h da manhã o portão do edifício se abriu. De camiseta
branca e larga, bermudas longas e óculos escuros ele saiu, detendo-se um pouco
para uma breve conversa com o porteiro. Ana observou com atenção. Ele estava
bem, parecia alegre e bem disposto. Os tênis eram novos, e ele levava seu
sorriso largo e divertido; o sorriso mais bonito que seus olhos já tinham visto
na vida. Ana sentia tantas saudades das palavras e da voz daquele menino; do
seu menino.
João despediu-se
do porteiro e seguiu à direita para a estação de Metrô caminhando sem pressa
como de costume fazia. Ana observou-o até que dobrasse a esquina. Ele estava
lindo; estaria sempre lindo aos olhos dela. Ligou o carro e, apesar do pesar
das manhãs de quarta-feira, ela sentia-se bem. Ele estava bem e ela podia
seguir tranquila por mais uma semana. À noite haveria futebol.
domingo, 18 de junho de 2017
Manhãs de Domingo
Manhãs de Domingo
Hoje pela manhã,
logo depois de acordar, peguei-me arrumando a cozinha de um sábado à noite. Algumas
garrafas de bebida a serem lavadas, o lixo a ser posto para fora, alguns pratos
e copos na pia. Nenhuma novidade fosse esse lixo algo que eu produzira. Não era.
Doente, deitei-me cedo, por volta das 22:30h, e dormi profundamente até a manhã
de domingo.
A pequena
bagunça pertencia aos meus miúdos crescidos e amigos. Coisa pouca, verdade. Contudo
peguei-me a pensar que injustiça cruel era aquela. Por que afinal deveria eu
limpar o lixo alheio? Sim, tenho meus rompantes egoístas com uma frequência assustadora.
Uma vergonha! Eu sei. Porém, como de costume em meus diálogos solitários, logo me
veio à cabeça a resposta certa para tal questão. Perguntei-me quantas vezes
meus pais tinham feito este mesmo gesto por mim. Quantas vezes minha mãe e meu
pai limparam a minha bagunça? Bem, não sei. Dezenas de vezes com certeza, centenas
de vezes, talvez.
O fato é que
mesmo sem de fato o ser, deixei de fazer o papel de filha na história da minha
vida, da nossa vida, e cumpro há algum tempo o papel de mãe. Uma mãe torta, fruto
de uma família um tanto fora do comum, concordo. Entretanto, não percebo que o
amor pudesse ser maior e mais bonito se a família tivesse sido formada de outra
maneira. Amo aos meus miúdos; eles são meus também, tanto quanto eu sou deles,
e isso, nada, nem mesmo todo o tempo do mundo, poderá mudar.
Nessa semana muitas
famílias sofreram e sofrem com dois terríveis incêndios que mataram mais de uma
centena de pessoas. Famílias inteiras morreram presas em suas casas em Londres
porque à segurança do edifício onde viviam pouca atenção e importância foi dada.
Famílias inteiras desapareceram nas estradas de Portugal na tentativa de
escapar das chamas de um incêndio florestal sem culpados e sem precedentes. E eu,
na segurança da minha manhã de domingo, não consigo medir o tamanho da dor que
eu sentiria em situações como estas.
Por isso, essa semana,
mais do que antes, sinto-me bem, mais feliz do que nunca, em ter que organizar
a bagunça que os pequenos, e os não tão pequenos deixam pela casa sempre que
estão aqui. Eles estão por aqui, eles estão bem; e isso é, fundamentalmente, a
única coisa que importa nesta vida. Que venham muitas e muitas manhãs de
domingo como esta! Amém.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
Palavras
Palavras
Verbos, substantivos, artigos...
Um conjunto absurdo de palavras foi usado
para dizer tanto;
e faltou-me perceber que eu ainda tinha que aprender a falar.
Enganei-me.
Uma montanha absurda de adjetivos cheios de significado
e carinho
foi usada; desperdiçada em frases que se perderam pelo
caminho.
Erro de mensageiro,
faltou-me o discernimento para caminhar pelo lado correto da
calçada.
Pois sem muito planejar, crente, fui para onde me guiavam
os sentimentos.
À revelia de toda e qualquer razão, segui
para perder-me, sozinha,
em meu mundo feito de um labirinto de
palavras bonitas.
palavras bonitas.
segunda-feira, 12 de junho de 2017
domingo, 11 de junho de 2017
Dias de Lagarta
Dias de Lagarta
A nossa vida muda porque nós assim
queremos. Pois, isso é um fato. Porém é verdade, também, que antes de a
mudarmos, por ela somos, à revelia, transformados. Sem percebermos o que
realmente está a acontecer, feito lagarta, mudamos lenta e definitivamente. De
modo que, depois de algum tempo, já não somos mais os mesmos e a vida que ainda
vivemos já não nos cabe mais.
E apesar de todos os medos,
apesar do apego que temos pela tão amada rotina, apesar de sentirmo-nos em casa
com a vida conhecida, apesar de o amor ser ainda verdadeiro por quem está em
nossa companhia. Afinal, apesar de todos os pesares que as mudanças trazem,
chega o instante de mudar.
Bom, pode ser que a vida não seja
desta forma para todos nós. Pode ser. Porém, para mim me parece que a mudança é
algo tão inerente à vida que sem ela a tal vida não seria possível. Sem as
mudanças sentir-me-ia parada no tempo, estaria perto do fim. E esse não é o
tipo de vida que quero para mim.
Os dias que vivemos no Brasil,
que eu vivo, são tempos de mudança nos quais o futuro mostra-se mais incerto e
nebuloso que dantes se mostrava. E eu, apesar
de sentir-me um tanto quanto assustada, sinto-me mais do que tudo curiosa com o
que está por vir. Pois, toda mudança dá-me medo, o mesmo medo que me dão os
aviões, (ou seja, um quase pânico), mesmo assim, quero sempre que a vida para
frente caminhe como continuo a querer viajar. Porque os medos, até os muito
grandes, foram feitos para a gente superar.
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
terça-feira, 6 de junho de 2017
Pequena
Pequena
Ando quieta, calada.
A exercitar minhas qualidades de bicho do mato,
pouco simpática,
dei por mim a economizar frases, sílabas e palavras.
Inseto pequeno tem por obrigação a ciência de seu peso e de
seu tamanho
desimportante frente
a tantos outros bichos
tão maiores e mais visíveis do que ele.
Bichos de longos braços e pés grandes.
Finjo-me de morta. Aranha de pernas encolhidas,
tortas,
tortas,
observo,
sem qualquer vontade para o movimento,
o passar arrastado do tempo.
Imóvel, de gente tornei-me
pequena pedra.
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