O DesImportante
Um dia serei apenas parca memória para os meus,
no momento seguinte menos que isso.
O tempo e o mundo continuarão rotineiros e eternos
sem por qualquer instante aperceberem-se da falta minha.
Falta alguma
Falta ínfima
Falta nenhuma
Medida exata da importância dos homens sobre a Terra
é a medida das formigas;
nunca chorei morte de formiga.
Nem mesmo as que morreram de morte matada
pela minha mão assassina.
Um dia deixarei de ser, tranquilamente, diante de uma janela
a observar durante o meu último dia
todas as lembranças de uma vida inteira num
desfile de carnaval das minhas memórias perdidas.
E nesse dia sentirei mais uma última vez as saudades de tudo
que para mim foi mistério.
Saudades dos amores perdidos,
dos meninos ainda não crescidos,
do olhar da minha mãe a me ver a mim,
de ti.
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