domingo, 24 de novembro de 2019

Além Mar




que fizestes das palavras?

Que fizeste das palavras?
Que contas darás tu
dessas vogais
de um azul tão
apaziguado?


E das consoantes, que
lhes dirás,
ardendo entre o fulgor
das laranjas e o sol dos
cavalos?


Que lhes dirás, quando
te perguntarem pelas
minúsculas
sementes que te
confiaram?




ENTRE OS TEUS LÁBIOS

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.



HOJE ROUBEI TODAS AS ROSAS DOS JARDINS

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.


Eugénio de Andrade

ao menino mais doce desta vida.

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