Desde 1980
acompanho aos Jogos Olímpicos com ganas de ver tudo o que é possível. Por isso,
em 2016, depois de já começadas as Olimpíadas no Rio de Janeiro, arrependi-me
profundamente de não ter dado muita bola para o tal acontecimento em Terra
Brasilis. Não fui ao Rio. Por quê, meu Deus! Independentemente de onde
aconteçam, mesmo em países profundamente desiguais como o meu, as Olimpíadas
são para mim um momento tão belo que beiram ao poético; ao sobrenatural. Deveria
ter me organizado para ir ao Rio sem dúvida.
Ignorei aos
jogos no Rio e detesto ignorar o que sinto que devo fazer. Quebro a cara com gosto,
mas não gosto nadinha de arrepender-me do que não fiz. Sendo assim, decidi-me
por ir ao Japão em 2020 enquanto Usain Bolt ganhava mais uma medalha.
Planejei-me e comecei a guardar dinheiro para a tal aventura. Tenho grande
admiração pelo Japão e seu povo, sempre quis visitar a este país e, em tempos
dos jogos gregos este seria um momento ímpar para fazê-lo. Japão 2020 lá vou
eu.
Não fui. A vida
mudou em 2018 e todos os planos mudaram. Oh vida! Bom, a bem da verdade, nem as
Olimpíadas foram para o Japão em 2020. Não senhor. Em 2020 o mundo parou, a la
filmes de ficção futurista sem direito a efeitos especiais, e ficamos feito
tatu na toca. Ficamos sem os jogos que realizaram-se agora, em Julho de 2021,
sem direito a público. Uhhhhh... pensei eu. Não fui, ninguém foi. Eita sina
lascada!
Não fui, porém
foram os atletas. Amém!! E foi ótimo ter tido estes 15 dias de vida para além
das atrocidades e canalhices dos seres humanos que têm nosso mundo em suas mãos,
apenas a admirar esta gente que faz coisas que eu nunca seria capaz de fazer. Lindo,
lindo, lindo... 15 dias sem dormir direito, meio zonza, a chorar em frente à
televisão no meio da madrugada.
Chorei de
emoção, de orgulho, comovida com a dedicação de gente que se dedica por algo
sem explicação. Gente que trabalha incessantemente para quiçá, com muita sorte
a ajudar, ganhar uma medalha feita de plástico reciclado. Gente maluca!
E se todos são
malucos, malucos admiráveis, por correr assim atrás de recordes, de números e
de pódios a troco de muito pouco, ou quase nada. Pensar o quê dos atletas
brasileiros que praticamente pagam para poder participar dos Jogos Olímpicos?
Penso que eles
são mesmo seres diferentes. Não perfeitos, nem santos; não. Contudo, são
pessoas nas quais a vontade de conquistar e realizar algo nesta vida, algo
diferente e relevante, é muito maior e mais forte do que a própria existência delas.
Eles vivem para correr, saltar, nadar, voar... Parecem, feito criança, ignorar
a fatalidade que é essa vida regida pelo vil metal. São mesmo seres abençoados.
Meus heróis de carne e osso. E com medalha no peito ou não, têm o meu aplauso. (Vocês
são demais!)
Os Jogos
Olímpicos de 2020, que chegaram por cá atrasados, acabaram e já me deixam cheia
de saudades. Esta noite vou dormir, verdade. Porém, até lá, vejo e revejo, numa
ressaca atlética, os feitos destes homens e mulheres que merecem a minha
admiração desde que me entendo por gente. Desde que, muito miúda, vi e ouvi todo
mundo a falar de uma menina chamada Nadia. Nadia Comaneci.
Paris...
Paris... quem sabe? Coco mole, meu Rei!!!!