terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Brigando pelo rádio (do carro)


Num dia destes, de repente, ele sentou-se no banco do passageiro ao meu lado; bem sem cerimônia e sem mais nem menos. Sem me pedir se podia ou não. E, a verdade é que não havia necessidade alguma de pedir porque, afinal, Lucas já tinha idade para isso - 11 anos completos então. Mas, naquele instante, lembrei-me dele pequeno no banco de trás; um menino tagarela e magrelo, às voltas com seus carrinhos e um ou mais Power Ranger nas mãos. Lembrei-me da vontade que ele tinha de sentar no banco da frente, de pedir e pedir, de brigar comigo, às vezes, e de ficar bravo e com um bicão de tamanduá pro meu lado. Isso, porque eu sempre dizia um redondo e ditatorial - Não!
Nunca deixei Lucas andar no banco da frente durante todos aqueles anos por vários motivos, por todos eles, acho eu: por medo que algo acontecesse com aquele menino que eu amava, que amo, mas que não era meu, por medo que a polícia realmente ralhasse comigo por desobedecer à lei, ou simplesmente porque aquilo era o certo a fazer (meu jeito Caxias de ser que não me deixa transgredir muito a lei, eita!).  Não importava, o banco da frente era território proibido para ele e ponto final. Por isso mesmo, vê-lo naturalmente, e com direitos a isso, sentado a meu lado assustou-me naquele momento: Lucas havia crescido.
Contudo eu, tia-de-primeira-viagem de adolescentes, não percebi o sofrimento que isso significaria para mim dali para frente. Pois, no instante que ocupou o assento a meu lado, Lucas (e seus dedinhos de ouvidos pop) tocou no dial do meu rádio. Que tortura, meu Deus! Uma heresia tão grande e inominável ocorreu que o pobre Jacques, meu carro francês acostumado a Rock, Blues, Jazz, MPB e etc. e tal, só não enfartou porque lhe falta coração para tanto: Kate Perry tocando no meu rádio. E eu? Eu, apesar de odiar o som da tal Perry, o deixei ouvir o que queria; fazer o quê?
Claro que me agrada muito vê-lo assim: um menino grande a questionar-nos. Um ser que já se acha homem o bastante para namorar meninas, e que crê, piamente, que entende da vida, e de seus pormenores íntimos, muito mais do que nós, os adultos, que o atormentamos sempre. Afinal, logo-logo, ele será homem e, não há época melhor do que agora nem lugar mais confortável do que este para aprender, testar e compreender como tudo neste mundo dos adultos funciona. E, para nossa felicidade, ainda demorará muito tempo para que o menino saiba tudo que sabemos e, por isso, também nós temos tempo para aprender, muito, com ele.
Ontem, mais uma vez, lá estávamos nós dois a brigar pela estação de radio que queríamos ouvir. E eu, para irritar mesmo, mexia no dial sempre que ele se distraía. Provocava-o reclamando do som que ele ouvia e perguntava quem era esse ou aquele que tocava e que eu não conhecia. Torrei tanto a paciência de Lucas que ele virou, sério, para mim e disse: “Você não conhece música moderna não, tia? Só escuta música antiga?” “Claro que não!” Retruquei eu. “Gosto de música moderna, mas, diferente.” Mas, que susto aquilo: Lucas está crescendo mesmo, e eu estou ficando velha de repente. Que venham as discussões, fazer o quê? C’est La vie!
Beijos antiquados para todos os amigos e a família. A meus sobrinhos um pedido: Cresçam mais devagar, por favor!

2 comentários:

  1. hahaha, fale pra ele que música não tem idade, as músicas são divididas entre boas e ruins. E quando não funciona meu filho ouve a célebre frase: Jamais ponha a mão no rádio de um negro! rsrsrs

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    1. Boa Maca! Mas fazer o quê, temos que ser democráticos com eles também, não? Vai lá entender esta geração! rsrsrsrs

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