Carlos disse-me, indiretamente como apenas ele o sabe fazer,
que meu problema é que procuro nesta vida alguém que me salve de mim mesma. E que
isso... Bem, isso eu jamais encontrarei. Talvez ele esteja certo, talvez não. Mas
a verdade é que mais do que deveria ser, por vezes, algumas vezes, dói-me
demais a vida. E nestes momentos sinto-me muito pequena num mundo que me parece
à imensidão. Momentos nos quais a tristeza parece ter a dimensão dos oceanos de
tão verdadeira e presente; e ela fica tão forte e real que parece mesmo que, a
qualquer instante, será capaz de engolir a alma que em mim habita. E devo
confessar que, apesar de ter uma vida muito boa e feliz, o fato é que a
tristeza mora aqui, sempre.
Pergunto-me se este será um fato que vem com os anos, e não sei
dizê-lo. Sei que o vejo em algumas pessoas
em momentos de confissão, quando baixa-se a guarda momentaneamente e mostra-se
a alma sem disfarces ou ilusões. Não creio que a tal tristeza viva em todos,
claro que não; pois há os fortes por natureza, aqueles que não sentem para além
da medida certa do sentir seguro e reticente. Grande sorte têm eles. E acho mesmo que esta tristeza deve ser um
tipo de aleijo d’alma, uma sensibilidade um tanto tola e sem sentido que aflige
àqueles que, seja lá porque cargas d’água for, sentem a vida mais
profundamente.
Contudo, de uma coisa sei com toda a certeza. Sei que muitos
de nós escondemos a tal tristeza muito mais amiúde do que pode parecer e, por
isso, resolvi falar sobre ela aqui. Não para achar uma solução, que isso eu creio
não existir. Mas apenas para dividir esta aflição que não é apenas minha, e
assim, solidarizar-me com a tristeza que há em todo canto. Para que deste jeito,
juntos, sejamos capazes de aceitar mais calmamente este defeito e aprender a
conviver com ele seja lá como for: com remédios, exercícios físicos, alguma
loucura, acupuntura ou meditação.
Agora, sei de algo que apesar de não curar tal deficiência d’alma
ajuda muito e é porreira que só: a família (seja ela a biológica ou não) e os
amigos verdadeiros que ganhamos durante toda a vida. Não há amuo, calundu,
tristeza grande ou passageira, zanga ou manha e acabrunhamento que não melhore
muito na companhia de quem se quer bem. E para a alegria de todos nós, (apesar
de acharmos, às vezes, que queremos bem a uma pessoa só e que isso nos chega),
há sempre uma boa porção de gente as quais amamos e que nos amam igualmente.
Por isso, aproveitando que a Páscoa está quase por cá, queria
agradecer muito a todos vocês que são o doce que há nesta vida: minha família e
meus amigos. Obrigada por terem me salvado de mim mesma tantas e tantas vezes,
por toda a paciência, pelo carinho, pela companhia, pelos conselhos e pelas
risadas que vocês trazem para a minha vida. Nada do que faço valeria qualquer
coisa se não os tivesse comigo sempre; mesmo quando a distância parece nos separar.
Amo-os eternamente.
Um beijo a todos os meus amigos e a minha família.
E um beijo melado àqueles que são a minha mais profunda
alegria e paixão particular: Fábio Antônio, Lucas, Gigi, Pedro, Diego, Bianca,
Victor e Nicolas - os meus meninos.
A vida é feita de muitas paixões, e a paixão destes dois fez a minha vida. Amor forte e verdadeiro, feito pra durar todo o tempo e que neste ano fará 50 anos.
Ensaios para o futuro:
piruetas
e muita agitação
quedas várias e dores terríveis nos pés...
Mas, no final de todas as contas,
de ter estado tão tonta
e de toda dor e esforço,
tudo terá valido a pena
se
tivermos a mais bela e simples certeza
de que foi feita nesta vida
alguma beleza
Assim que morre alguém com quem
temos algum laço de afeto, seja este qual for, o que todos nós fazemos é chorar
esta morte. Não por obrigação ou para fazermos pose, mas porque esta é a reação
natural de todo ser humano, pois temos que expressar nossos sentimentos. Seja
este o choro compulsivo e sentido que nos vem quando perdemos alguém que amamos
ou a lamentação sóbria e respeitosa em relação àqueles que admiramos à
distância, estas não requerem explicações ou motivos outros para além da perda
sentida.
Claro é que a pessoa falecida não
se torna santa com sua morte, contudo, mais claro ainda é que não é por isso
que lamentamos a sua perda. Da mesma forma que nosso amor ou paixão não está
atrelado à santidade de ninguém, nossos pêsames também não estão. Amamos porque
amamos, porque aquela pessoa tem para nós um significado que a lógica não deve
tentar explicar, pois a lógica jamais será a forma correta para compreendermos
qualquer sentimento.
Então, apesar de estarem longe de
qualquer santidade, todo o choro e as homenagens que vemos por estes dias pelas
mortes do Sr. Chávez, presidente Venezuelano, e Chorão, vocalista e letrista
santista, são sim algo a se admirar e demonstram a dimensão e a relevância do
que eles fizeram em vida. Por isso, mesmo que como eu, muitos achem que Chávez
cometeu muitos crimes durante seus anos de governo, mesmo assim, não há como
não admirar a força e a paixão que este homem foi capaz de gerar.
Quanto a Chorão, bem, não
lamentamos sua perda porque ele foi um exemplo de cidadão. E disso todos nós
sabemos. Maluco e cheio de atitude, duramente sincero e, às vezes, violento, apaixonado
pela vida e por mostrar tudo o que ele veio a dizer. E Chorão disse muito, e
foi um dos melhores letristas desta geração que eu tive o prazer de ver aparecer.
Humano, longe de perfeito e, por isso, grande nos seus feitos, Alexandre Magno
Abrão não conseguiu vencer a dependência química como muitos nesta vida; como
alguns na minha família, como alguns dos meus amigos queridos. E isso, na mesma
proporção, não os torna um exemplo do bem ou do mal. Não. Isso apenas nos faz
lembrar que falíveis somos todos nós, que erramos todos os dias durante quase
toda a vida. E que, apesar disso, há sempre quem nos ame como somos: homens e
mulheres imperfeitos.
Um beijo a todos os meus amigos,
e um especial para aqueles que resolveram viver a vida do seu jeito, os malucos que nem sempre são compreendidos.
05 de Março de 2013 - Morre Hugo Chávez: político demagogo e
ditatorial que enriqueceu a si mesmo e aos seus e empobreceu a Venezuela. Um
caudilho que levou o país a um retrocesso absurdo destruindo a liberdade de
expressão de seu povo e cultivando um governo populista levado no cabresto por
um coronel louco e carismático. É certo que os paupérrimos estão menos pobres,
mas a corrupção apenas mudou de mãos e a violência ali nunca foi igual.
Chavez morreu, mas as demagogias e as falácias continuam com
um golpe que começou a ser moldado desde Cuba e hoje chegou a seu final. Hoje
morreu um homem que já estava morto e que mesmo antes de morrer já virara um
mito. O maior mito antidemocrático moderno da nossa América do Sul.