Todo pai e mãe que se preza diz
conhecer o filho como a palma da mão. Pois, numa contradição que parece um tanto
quanto insólita, mas que não passa de um fato visto em sua totalidade e
complexidade, esta é uma verdade verdadeira e uma ilusão idealista. Não há
ninguém que conheça mais e, ao mesmo tempo, menos uma pessoa que seus pais. Somos
aquilo que eles conhecem de cabo a rabo, do direito e do avesso; eu sei. Contudo,
eu também sei que há os recantos que poucas vezes são vistos; os segredos de
nossas vidas.
Pois assim o é, e na semana
passada achei graça de minha mãe a conversar comigo sobre este assunto justo
por causa de um dos textos escritos. De acordo com ela, eu não sou bem assim
não como eu pinto e, além disso, ela queria saber quem viria a ser um “tal de
um fulano de tal” e etecetera e tal. E apesar de tantos tais, a verdade é que
ela está tão certa quanto errada. Não sou mesmo do jeito que eu pinto, apesar
de não o deixar de ser. Pois esta é uma parte de mim, seguramente, apenas não é
a parte que ela e meu pai conhecem tão bem.
Certo é, de acordo com meu vão
pensar, que não há pessoa neste mundo que nos conheça completamente, nem mesmo
nós mesmos; e segredos são uma parte fundamental da vida de cada um, de todos. Primeiro
eles existem apenas por medo, como quando somos crianças e mentimos para não receber
o castigo devido. Depois eles tornam-se uma questão de honra e sobrevivência numa
adolescência na qual fazemos tudo aquilo que nos dizem para não fazermos por ser
perigoso, proibido, um delito. Uma época na qual, suponho, somos seguidos de
perto pelos olhos compridos dos anjos-de-guarda e, assim, sobrevivemos ilesos.
O meu trabalhou muitíssimo bem, aliás.
Por fim, há os segredos que
sempre existirão entre pais e filhos, aqueles que são guardados apenas para não
preocupar demais e sem necessidade a outra parte. Nesta fase da vida quando
muitas vezes os papéis se confundem um pouco, quando nós, os filhos, temos mais
do que idade para sermos pais e, mesmo que ainda não o sejamos, cuidar dos que
amamos nos parece ser mais do que um dever, um prazer. Bem, nesta fase segredos
quase sempre existem apenas por um amor desmesurado por aqueles que,
simplesmente, não queremos magoar. Desta forma, têm os pais seus segredos, e
nós também os temos. Maneira simples de tentar fazer a vida do outro melhor; mais
bonita. Uma maneira de dizer, sem palavras, que amamos demais àqueles que nos
querem bem.
Um beijo a todos os amigos e um
especial aos meus pais.
Mi e Papito, eu amo-vos muito e para
todo o sempre.
Apesar de ser mais que óbvia a
grande utilidade das palavras, usá-las com sabedoria é que são elas. Pois, infelizmente,
e quiçá felizmente em vários momentos, para muitos de nós, os falantes (ou,
antes, faladores), é quase impossível colocar um freio qualquer que seja nas
tais. Para mim, que nasci tagarela por excelência, esta é uma habilidade ainda não
desenvolvida como o deveria de ser. Na maioria das vezes não sei calar.
Falo, e mais ainda, escrevo pelos
cotovelos e, como tudo aquilo que vem em demasia sempre há de ser para além
daquilo que se precisa, afogo-me na enxurrada de letras que brotam desnecessárias
pelo goela acima e pelos dedos abaixo. E, apesar de sentir-me muito bem com a
possibilidade de expressar-me quase que livremente, (pois sempre há uma “censurazinha”
aqui e acolá, obra máxima de meus recatos que, apesar de parcos, não me abandonam
jamais), apesar disso, sinto que um quê de mistério a respeito de quem sou
viria a calhar muito bem. Pois, isso de ser livro aberto acaba com a graça da
estória, não? Falo sem pensar e, mesmo depois de pensar muito, dou-me por
vencida, e desato a falar.
Entretanto, e sabedora de meus
defeitos, (de alguns mais e de outros menos, como todo ser de carne e osso),
sei também que o tal saber, aqui, não significa querer e, menos ainda, poder. Simplesmente
não posso calar-me, não o consigo. E não o consigo porque isso de deixar de
falar aquilo que passa pela cabeça e pelo coração soa-me inverossímil. Calar
significa não poder ser quem sou. (Arre, que maçada! - diria o Pessoa) E, por
isso, canso aos pobres dos ouvidos, e tiro do sério muita gente que, provavelmente,
não o merece. Desafortunadamente, mérito não tem relação direta com a
quantidade de palavras que dedico a alguém. O pobre do Carlos que o diga.
Desta mesma maneira, por tal
motivo banal - a incapacidade de calar-me, cá estão estas palavras que saíram quase
sem o meu querer; as espertas têm vida própria. Azucrinam-me, feito filho, até
que me vencem e as deixo sair. Saíram e agora não há mais como voltar atrás. Não
sei muito bem porque elas vieram com esta cara hoje, escolha inconsciente minha
e escolha consciente delas, contudo sinto que vieram como uma maneira de pedir
desculpas por muitas das coisas até hoje ditas. Talvez.
Porém, e a bem da verdade que
deve ser dita, a verdade é que não me arrependo de nenhuma das palavras de
carinho e amor que foram ditas ou escritas, apesar de ter consciência de que
algumas delas não saíram da forma e no tempo certo. Arrependo-me, sempre, e sem
precisar de muito tempo para isso (na maioria das vezes), de todas as palavras
duras que já disse ou escrevi para alguém. Sei que estas machucam a todos,
àqueles que as falam tanto quanto àqueles que as recebem e, desta forma, não
têm razão de ser. Sinto muito por elas.
Apenas sei que estava com
saudades de escrever aos meus amigos. Pois, cá está mais uma tagarelice inútil como
toda boa tagarelice deve ser.
Beijo e boa semana.
A canção sobre palavras que mais me agrada ouvir. Mayra Andrade - Palavra
O texto abaixo data de alguns
meses atrás, e foi escrito para contar um pouco da história de Maria que, por
motivos que apenas os céus um dia poderão nos explicar, nasceu com uma doença
muito séria; a Síndrome de Edwards, uma doença que limitava não apenas sua
maneira de viver, mas também o tempo que aqui estaria. Escrevi também porque me admirei com a força
e a coragem com as quais os pais da Maria enfrentaram toda a situação. Maria
foi e é muito amada e mimada por seus pais como sempre toda criança deve ser, e
trouxe, apesar dos problemas, aos seus pais a alegria que apenas um filho pode
trazer. Maria nasceu.
Hoje, a pequena bateu suas asinhas
de anjo e partiu. E eu quero apenas desejar a melhor das viagens a pequenita
que nos ensinou um bocado sobre o amor. Fica com Deus, Maria.
06.09.13
Maria
A menina Maria nasceu como
milhares de outros meninos e meninas nascem todos os dias, e com ela, como com
todos os filhos e filhas deste mundo, vieram toda a felicidade e toda a
preocupação que chegam com o aparecimento de um amor que desconhece quaisquer fronteiras.
Pois, desde o momento que nascem seus filhos todo e qualquer mãe e pai têm uma
única certeza: eles nunca mais serão os mesmos. E ficam de pronto abestalhados
com o poder de sedução deste ser tão pequeno que os invade e os cativa para
todo o sempre.
E Maria sempre foi uma menina
especial, pois ela foi especialmente desejada, especialmente esperada e, antes
e acima de tudo, especialmente amada desde o primeiro minuto de existência
simplesmente por ela ser quem é; por sua existência. Menina filha de pessoas
que resolveram nela crer e por ela lutar de maneira incondicional e apaixonada.
E lutou-se por ela pôr muito tempo, desde muito antes dela existir, e ainda se
luta. E a pequena Maria luta também. Uma luta que jamais será justa por ela ser
ainda tão pequena e indefesa e porque há lutas que são injustas porque, desde o
princípio, sabemos que não poderemos vencê-las como gostaríamos. A vitória será
dura e parcial. Uma vitória que apenas Deus e o tempo nos farão compreender.
Maria nasceu anjo e, como todo ser
provido de asas, não ficará aqui por muito tempo. A menina Maria, por suas qualidades aladas,
por pertencer aos céus feito passarinho, não poderá ficar aqui parada, presa à
Terra; e não há como impedir tal fato. Esta menina está além de onde estamos
nós hoje e, portanto, simplesmente, não nos pertence; Maria veio de visita. Ela
veio para mostrar sua força, para mostrar a capacidade incontestável e infinita
do amor, e sem usar palavra alguma conseguiu dizer tudo isso e muito mais a
seus pais.
Como sabemos todos nós, nunca
estamos preparados para dizer adeus para ninguém. Nunca o estaremos. E tal dor
e dificuldade tomam proporções oceânicas quando a este adeus inclui-se a
palavra filho. E por mais força que eu faça, não conheço palavras para descrever
tamanha prova divina e não consigo vislumbrar o tamanho deste sentimento. Sei
que será muito difícil, talvez, a parte mais difícil da vida até o momento. E
sei que tudo que posso fazer ou dizer será muito pouquinho, um quase nada.
Contudo, sei também que apesar de assim não o parecer, pois fisicamente não
será desta forma, Maria veio para ficar. Ela existe hoje e existirá para todo o
sempre no coração de seus pais e de toda família. Ela será parte deles. Maria
será sempre, e para todo o sempre, o mais puro e verdadeiro amor.
Um beijo especial e um cheiro
para a menina Maria e para seus pais.