Uma das coisas mais difíceis nesta vida é definir exatamente,
claro e sem sombra de dúvida alguma, o que é o certo a se fazer nesta ou
naquela situação. Saber se estamos certos, cheios e donos da razão, ou se
estamos completamente equivocados em nossas decisões e atitudes durante a vida
é muito mais complexo e custoso do que parece ser a princípio. Vamos, tal cegos
de Saramago, a tatear pela vida e a mostrar que a nossa natureza humana não é
tão boa quanto cremos ser. Isso de sermos falíveis e imperfeitos tem sua
beleza, eu sei. Mas o fato é que o ônus que tais qualidades trazem pesa demais
às vezes.
Certo é que há os tais dos dez mandamentos e que as leis
estão cá para que as cumpramos. Entretanto, entre matar alguém e cobiçar a
mulher do próximo há uma distância gigantesca, e os pecados grandes ou pequenos
são cometidos a miúdo sejam eles movidos por boas ou más intenções. E na
maioria dos casos a questão não reside em saber se as intenções são boas,
contudo em perceber por intenção de quem é que elas são.
Sempre me achei uma boa pessoa, apesar de apenas meio ciente
de minhas imperfeições e limitações, verdade. Mas, ainda assim: boa. Nunca matei
nada para além de formigas e baratas, e procuro não magoar as pessoas, apesar
de saber que, às vezes, o faço. Porém, tal como o inferno, eu estar cheia de
boas intenções talvez não seja uma garantia atestada da bondade e beleza d’alma
que me habita. Sei que não sou um monstro, não é disso que se trata. Porém,
percebo, em contradição com o meu dramático egoísmo costumeiro, que não sou o
anjo de pessoa que por vezes imagino ser.
E se já nos é um tanto doído perceber que não há tanta beleza
do lado de fora ao nos olharmos no espelho, perceber que pode haver a feiura cá
dentro dói muito mais. E entendemos que não nos conhecemos tão ampla e à luz do
dia como no dia a dia nos parece ser.
Então, noutro dia, quando ouvi alguém
afirmar que, com o tempo e o distanciamento, ele pôde, afinal, perceber a quão
feia a menina é por dentro apesar de por fora não o ser; assustei-me. Não que
o dito tenha sido explicitamente dito para mim. Talvez sim. Talvez. Mas isso
não importa. O que importa é que, desde
então, ando a olhar-me no espelho a tentar enxergar o quão feia sou, ou não,
por dentro. Feito a Alice, ando a vasculhar no reflexo o que há do lado de lá
do lado que cá dentro está.
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