Por estes dias o que mais me
parece certo é que o que não pode ser, às vezes, muitas vezes, é. E se a lógica
já não fazia muito sentido no âmbito daquilo que sentimos, ela anda a perder
terreno naquilo que parecia seu habitat – os fatos e nossas ações.
Se o certo é que deve sempre
haver a tal da razão em tudo que fazemos, estamos mesmo muito perdidos atualmente.
Há quinze dias seria loucura imaginarmos que um avião cheio de gente podia
simplesmente desaparecer sem deixar rastros, como se pudesse se esconder por
detrás de uma nuvem qualquer, no ar. Contudo, e se isso já parecia desafiar a
razão que as coisas devem ter, no último domingo, aqui no Rio de Janeiro, (um
lugar bem mais próximo e real do que nos céus da Malásia), aconteceu algo que
desafia toda a lógica e a razão que qualquer pessoa neste mundo pode conhecer.
No domingo, policiais militares,
à plena luz do dia, trataram uma mulher como se fosse alguma coisa qualquer, um
saco de batatas ou lixo, e a jogaram de qualquer maneira no porta-malas da
viatura que, por um motivo inexplicável também, parecia ter pressa para levar a
tal senhora ferida ao hospital. Difícil crer que no ato houve qualquer intenção
de ajudá-la, de salvá-la. Parecia haver, isso sim, a pressa de se esconder algo
errado, uma falha, um ato grave e equivocado que a tal polícia cometera.
Pois o descaso, a falta de qualquer
pudor humano que os tais policiais deveriam ter, resultou numa das cenas mais
cruéis que já vi nesta vida. Como se estivesse a ver um faroeste à italiana, eu
vi a senhora Claudia Silva Ferreira ser arrastada pelo carro da polícia, presa
ao para-choque traseiro, pelas ruas do Rio de Janeiro por alguns metros. Não queria
vê-lo. Fugi do vídeo e da cena durante toda a segunda-feira, porém, a realidade
impõe-se sempre. Esteja ela plena de lógica ou o seu oposto.
Lembrei-me de uma cena vista há
anos e que ainda me assombra frequentemente. Há anos, vi uma reportagem de como
são feitos casacos de pele e um homem a esfolar um animal atordoado, mas ainda
vivo, que gemia baixo de dor. Chorei. Achei aquela a maior atrocidade que eu já
tinha visto, mas, infelizmente, agora a cena foi superada.
Não importando se a senhora Cláudia
estava já morta ou não, e o quanto ela pôde sentir de tudo o que aconteceu. A
falta de respeito à vida demonstrada por estes brasileiros que deveriam cuidar
da vida humana foi, é, assombrosa; uma atrocidade inexplicável. Uma mulher inocente foi baleada e arrastada
pelas ruas da cidade onde ela morava, e isso ultrapassa qualquer falta de razão
que possa haver nesta vida. Entre tantos absurdos, me parece que o que não pode
ser, é. E a pergunta que me vem à mente é se a única coisa que podemos fazer é
continuar a chorar.
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