No dia 5 de Julho de 1982 eu me
encontrava inconsolável sem saber o que havia passado e qual seria a explicação
para os 3 a 2 da Itália contra nós. Aquele foi o último jogo da primeira Copa
do Mundo da qual tenho recordação, e ainda me lembro de como me senti depois de
uma derrota inacreditável para mim.
Nunca mais, mesmo com a pouca
idade de então, esqueci-me da terrível falha de Toninho Cerezo que ajudou nesta
derrota e durante muitos anos não o perdoei. Para a menina que eu era, o
volante da minha imbatível seleção foi, sem qualquer sombra de dúvida, o grande
culpado por algo que não poderia jamais ter acontecido. Afinal, a minha seleção
perfeita de Sócrates e Zico não deveria perder para ninguém, e eu chorei naquele
dia pela decepção da inexplicável derrota injusta e cruel.
No último dia 8 de Julho não houve
lágrimas minhas, pois a derrota desta vez foi de outra monta:
contraditoriamente compreensível, apesar de inexplicável e vergonhosa, para
quem entende um pouco do pouco profissional e parcamente sério futebol que
temos atualmente por aqui. Andamos há tempos a assistir campeonatos nacionais
com jogos medíocres porque desperdiçamos muitos de nossos talentos, e porque
não temos competência para competir com os verdadeiros mercados da bola e perdemos
os nossos craques ainda nas fraldas para a Europa e seus vizinhos.
Sem identidade, sem um bom
futebol praticado em casa, a grande maioria já assistia, desde o princípio, aos
jogos da seleção com certo pé-atrás. Vencer a Copa seria mais uma questão de
sorte que de competência, porém, até poderia acontecer. Entretanto, mesmo com a
falta de organização e seriedade com as quais temos levado o nosso futebol, os
piedosos 7 a 1 da equipe alemã contra a Canarinha são mesmo uma surra difícil
de imaginar até em sonho. E lá no futuro, seguramente, serão estes 7 gols
alemães tudo o que lembraremos do nosso desempenho na Copa no Brasil.
Hoje, agora enquanto escrevo,
perdemos de 2 a 0 para a Holanda na disputa de um terceiro lugar que não
interessa a quase ninguém. Não está nada fácil a nossa vida, não mesmo! E
espero que tantos gols tomados nesse campeonato sirvam para começarmos a
refletir na forma como as coisas são levadas aqui no país que já foi “o país do
futebol”.
Eu, que agora entendo muito mais
do que entendia da vida em 1982, não consegui chorar nossa derrota mais do que
anunciada. Doeu-me, isso sim, ver aos meninos e meninas de 2014 chorando
copiosamente em campo enquanto viam, um após o outro, 7 gols sendo marcados contra
a seleção perfeita deles. E, diante disso, chego quase a agradecer a Deus pelos
3 gols de Paolo Rossi.
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