No início dos anos 80, depois de
quase duas décadas de ditadura no Brasil, eu ainda era muito menina e não
compreendia completamente o que significava a reabertura política de meu país.
Havia gente voltando do exílio, começava um movimento por eleições diretas no
país e alguns horrores do que havia ocorrido nos anos de chumbo se
descortinavam com palavras que me assustavam: censura, tortura, mortos, desaparecidos.
Trinta anos atrás no dia de hoje, 15 de Março de 1985, tínhamos novamente um
presidente civil eleito; não por eleições diretas como queríamos é verdade,
contudo ainda assim tal acontecimento tinha um peso grandioso em nossas vidas.
Finalmente vivíamos numa democracia mais uma vez.
Depois de nosso primeiro presidente
civil, o Sr. José Sarney (homem que não chega a ser um exemplo de caráter a ser
seguido), elegemos a Fernando Collor de Mello através do voto direto. Em 1992,
apenas dois anos depois, tínhamos um processo de impeachment instaurado e a
subseqüente renúncia de um presidente que se sabia condenado por corrupção e
Caixa 2. Saímos às ruas de “caras pintadas” e no dia 29 de setembro, dia do meu
aniversário, Collor deixava a presidência do Brasil e Itamar Franco assumia seu
lugar. O Brasil não perdeu nada com
isso, a jovem democracia não perdeu nada com isso, todos nós não perdemos nada
com isso e, além disso, e por isso, já deveríamos ter aprendido que uma troca
de presidente não nos afeta tanto assim. Nós não dependemos no passado e não
dependeremos nunca de um homem ou mulher. Não há salvadores da pátria, deve
apenas haver competência e trabalho sério.
Apesar de não achar que um
impeachment seja a solução única e derradeira para todos os nossos problemas,
nem mesmo o problema da corrupção. E mesmo sabendo que ainda é cedo demais para
sabermos o que realmente acontecerá nos “finalmentes”. Vale lembrar que
Collor foi destituído por muito menos e não me lembro de ninguém a chamar o que
houve de antidemocrático; muito pelo contrário. Vale também lembrar que Dilma
foi presidente do Conselho de Administração da Petrobrás por oito anos até
2010, Ministra de Minas e Energia e Ministra-Chefe da Casa Civil enquanto o
esquema Petrobrás era posto em andamento. Vale, ainda, lembrar que grande parte do
dinheiro desviado da mesma Petrobrás foi utilizada para financiar a campanha de
Dilma Rousseff. Portanto, crer na
inocência da Presidente de nosso país nesta situação chega a ser uma ofensa à
inteligência de qualquer um, não?
Costumo dizer que o PT no poder
acabou com minhas últimas ilusões nesta vida, feito a crença nos príncipes encantados
que tanto pertence ao imaginário de qualquer menina. Emocionei-me quando Lula
tomou posse pela primeira vez, pois sempre acreditei que o PT faria tudo de
maneira diferente; que pela primeira vez na história deste país um homem como
todos nós, um trabalhador, estaria no poder e isso faria muita diferença. Fui
mesmo parva no mais alto grau da parvoíce que se pode ser, porque para mim, com
o Escândalo do Mensalão de 2005, ficou claro que Lula e todos os seus não eram
em nada diferentes. Eles eram corruptos; escandalosamente corruptos.
Hoje não consigo entender como ainda
há quem defenda o PT e os seus já que roubo é roubo e não há conjecturas a
serem feitas a este respeito, não há argumentos históricos que justifiquem o
atual aparelhamento do Estado Brasileiro feito com um único intuito: perpetuar
o Partido dos Trabalhadores no poder. E nesse ponto me questiono, falando em
democracia, o quão democrático é vivermos num país onde não há o revezamento no
poder. Onde a oposição praticamente não existe, ou não existiu durante muitos
anos. Onde a máquina estatal tem sido avolumada paulatina e inexoravelmente
para a boa manutenção de um voraz Congresso Nacional satisfeito a comer tão
opulentamente na mão do Executivo Federal.
Não sou santa, claro que não. Já bebi
e dirigi como qualquer adolescente faz uma ou mais vezes na vida; vez ou outra,
baixo músicas da internet sem pagar direitos autorais. Tenho meus pecados como
todo ser humano os tem, e também sei que a corrupção já existe há muito tempo;
desde que a nossa “Terra Brasilis” é mundo. Entretanto não compreendo como tais
coisas, os pecados alheios ou pretéritos, sejam justificativas ou desculpas
plausíveis para toda a corrupção fomentada pelo PT, PMDB, PP e outros Ps mais.
Afinal, roubo ainda é crime no Brasil, não?
Sei que muita besteira tem sido dita
por aí, e que até chegamos ao ponto de ver gente a carregar anacrônicas e
absurdas faixas a pedir a volta de uma ditadura militar. Meu Deus, quanta ignorância!
Eu sei. Contudo, devemos lembrar que
este povo mal informado e “assassino-confesso-da-língua-portuguesa” que anda
por aí vive há mais de 10 anos sob a égide do Partido dos Trabalhadores que,
apesar de tanto falar em educação, pouquíssimo tem feito por ela.
Sei também que a idéia de termos um
Michel Temer como presidente do Brasil dá-nos calafrios pela espinha abaixo.
Realmente a nossa situação não está nada cômoda, não senhor. Mas ficam cá as
perguntas para um exercício de reflexão sobre toda a situação: O que teria sido
do Brasil 20 anos atrás se tivéssemos sido tão lenientes com Collor como fomos
com Lula e o PT no Mensalão? O que seria do Brasil hoje se tivéssemos sido tão
rigorosos com o Lula 10 anos atrás como fomos com Fernando Collor de Mello?
Collor que, por sinal, anda de mãos dadas ao PT e está de volta à cena da
corrupção nacional? Collor, PMDB, Temer, Calheiros... Pois, o Mundo dá mesmo as
suas voltas sem sair do lugar, não?