Indiferentes
Em alguns
momentos durante nossa vida e por motivos nada nobres todos nós, homens e
mulheres, damos demonstrações de que a nossa capacidade de compreender o outro,
de o reconhecermos como um de nós, falha terrivelmente. De repente, a tal da
empatia vai por água abaixo e nos tornamos pequenos monstros, psicopatas quase
inofensivos que, apesar de não serem capazes de matar ninguém, tão pouco são
capazes de estender a mão para salvar alguém. Por que todos nós temos a
capacidade de ignorar o sofrimento alheio? Não deveria ser assim, deveria?
O fato é que
seja por qual motivo for – pela falta de dinheiro no bolso do paletó, pela cor
da pele que reveste o corpo, pela crença que o outro sustenta, pelo pedaço de
terra onde calhou à outra pessoa nascer, por quem se sente tesão, por ter
nascido mulher ou, simplesmente, por ser um pouco diferente – nenhum deles
deveria interferir em nossa capacidade de perceber que ali está outro ser humano feito da mesma
matéria que somos feitos todos nós. Como, então, não enxergamos e percebemos a
dor alheia de forma fácil e automática e deixamos que algumas pessoas sofram? Onde
andamos a guardar toda a vergonha e o peso nos ombros que deveríamos sentir por
sermos tão omissos como temos sido capazes de ser?
É verdade que
podemos dizer que há pecados e pecados, e que o peso de cada um deles pode ser
medido. Mas, pode mesmo? É verdadeiramente mais pecador quem lesa a milhões do
que quem lesa a centenas de pessoas ou não? Depende de quem lesamos e do
tamanho do dolo? São mais cruéis aqueles que empunham uma arma numa favela no
meu país ou os homens que andam com seus ternos caros no Congresso Nacional a
roubar-nos todo santo dia? São verdadeiramente
muito piores os poucos que matam do que os milhares que deixam que a matança
aconteça? Não é tão fácil quanto parece responder a esta questão quando
pensamos nos princípios que deveriam nos guiar. É?
Há alguns dias,
o mundo inteiro arregalou seus olhos e sentiu-se um tanto culpado e
envergonhado, afinal, o que mais podemos sentir quando vemos o corpo de um
pequeno menino afogado, com apenas três anos, chegar à praia de qualquer país. Aylan
e sua família, como milhares de outros, queriam apenas fugir de uma guerra sem
fim e ninguém fez nada para ajudar-los. Não fizemos nada. Há tanta gente que sofre
tão perto de nós e fingimos não ver. Não fazemos nada. Por que somos tão egoístas?
Não tenho qualquer resposta para tudo isso, mas por estes dias, para mim, anda
complicado medir a amplitude de minha empatia que, em muitos momentos, se
apresenta tão raquítica que me dói admitir. Por que eu sou assim?
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