O Gosto pelas Palavras
Gosto muito de
escrever por alguns motivos. Porque através da escrita faço uma auto-análise
sem grandes custos e a qualquer hora e desta forma descubro mais claramente
quem sou. Porque muitas vezes escrever é mais fácil do que dizer já que no
dizer há um sem jeito que me cala. Parece que as palavras certas vêm sempre e
apenas assim, em silêncio, ditas apenas dentro da minha cabeça. Lá elas nascem
e fluem, feito água, pelos dedos sem que nada nunca as atrapalhe; sem medos ou
censura. Sem que a língua se mova e me atrapalhe.
Entretanto, mais
do que tudo, sou apaixonada pelas palavras que para mim têm vida própria e,
portanto, merecem um corpo. Elas merecem ser escritas. As palavras têm cor, forma, peso, cheiro e
gosto específico e apenas quando são gravadas para sempre no papel, (ou mesmo
neste mundo digital que existe sem que possamos realmente tocá-lo), podemos
vê-las em toda a sua beleza. São lindas as palavras e, talvez, esta seja a
questão para mim. Sou encantada por elas, enamorada mesmo, e as palavras me
emocionam como nada mais neste mundo.
Por algum motivo
nas palavras vive a minha alma como se elas fossem a minha verdadeira casa. Falta-me
o talento, eu sei, porém isso não chega a importar já que não há pretensões para
além do livre exercício de expressar-me. Não penso em livros nem na
obrigatoriedade de escrever, elas não foram feitas para mim para ganhar a vida.
Não. Elas são, muito ao revés de qualquer obrigação, o maior prazer que tenho e
conheço; meu recanto encantado, um mundo fantástico onde o tempo e o espaço são
ignorados. Escrever é, mais do que qualquer coisa, um desejo que parece ter
vida própria e que sai muitas vezes, como agora, sem pedir licença.
É fato que ando
meio assim-assim, sem qualquer inspiração e, apesar de querer escrever mais,
ando a escrever menos. Escrevo menos desde que descobri que minha mãe estava
doente, menos ainda depois que desisti completamente do amor desta vida. Meu
amor feito de música e palavras foi o amor mais belo e poético que conheci.
Contudo, também acho que é fato que não vou parar de escrever, apesar do meu
passo de formiga dos últimos meses; deste ano todo. A vida continua diferente
do que era antes, verdade, mas nem por isso menos interessante. Ainda há muito tempo
para sentir o gosto que me dá o gosto das palavras, minha paixão sem fim.
Blá blá blá, canção mais linda feita sobre as palavras ditas e escritas.
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