Brasil, que país é esse?
Os dias andam tão estranhos que,
às vezes, percebo que não sei mais o que significa ser brasileiro. Quem somos
nós atualmente? Qual a nossa verdadeira identidade? Somos ainda o povo
hospitaleiro, alegre, criativo e otimista ou tornamo-nos, definitivamente, uma
nação de homens violentos, céticos, abusivamente materialistas e egoístas? Não sei.
É bem verdade que sempre haverá
um pouco de tudo num país grande como o Brasil, e que as tragédias humanas
serão sempre material mais farto e amplo quando pensamos em vender notícias. Somos,
sem qualquer sombra de dúvida, seres donos de uma curiosidade enamorada por
tudo o que é mórbido. Contudo, não há como negar que a vida em “Terras Brasilis” torna-se, num “continuum” que parece não ter fim, em
algo mais e mais violento, difícil e feio a cada dia que passa.
Há muito ficaram esquecidas as
minhas tardes a andar de bicicleta pelas ruas da cidade sem qualquer
preocupação, nem com os carros nem com as gentes. Quase não existem mais as idas
e vindas à escola de crianças ainda pequenas e independentes, lá pelos oito ou
nove anos de idade, sozinhas. O caminhar pelas ruas sem se preocupar, não
importando se é cedo ou tarde demais, é artigo raro hoje em dia, pois, ato
reflexo, quase todo brasileiro anda pela sua cidade atento, alerta e cheio de
receios.
Nos primeiros dias deste junho um
menino de dez anos morreu em São Paulo a trocar tiros com a polícia. Ele e um
amigo de onze anos haviam roubado um carro e, armados, fugiam da polícia. E a
pergunta que não sai da cabeça é: o que pensar de um país que tem meninos, tão
pequenos, vivendo uma vida de bandidos; armados e agressivos? Que argumentos utilizar
para explicar este fato ao mundo e aos nossos filhos? Como pode haver um menino
de dez anos com uma arma em punho pelas ruas da cidade mais rica desta nação? Como
pode haver tantos destes meninos e meninas espalhados por tantos caminhos? O que
é que os adultos, todos nós, que deveríamos proteger a toda e qualquer criança,
pois este é nosso dever e obrigação, estamos fazendo de tão equivocado neste nosso
mundo tão esquisito? Como podemos ser indiferentes a isso?
Somos um país de líderes corruptos
e cínicos e de um povo egoísta, fútil e materialista a construir um futuro
sombrio onde nada para além do dinheiro merece qualquer respeito? É isso mesmo?
Não tenho qualquer resposta para tais perguntas como todo o mundo aqui não
parece a ter, e sinto-me triste com tudo que ouço e vejo; e comigo mesma. Vale sempre
lembrar que o mundo, e todos os seus cantinhos, foi feito para todos nós e que
assim deve ser sempre. Mesmo que poucos assim não o queiram, o Mundo deve ser
de todos e para todos ou chegará o dia no qual ele não será de mais ninguém.
Que país é esse? Música da Legião Urbana, escrita por Renato Russo em 1978 e lançada no disco de mesmo nome em 1987. Quase 30 anos depois somos, infelizmente, o mesmo país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário