A Libélula
Voou a Libélula pela janela sem querer,
sem o meu querer,
sem o querer dela. Dando fim, assim,
aos nossos dias juntas, aos nossos segredos compartidos,
às lembranças construídas dia a dia por tantos dias sem fim.
Ela era minha. E eu por ela enamorada,
encantada.
Levou-a uma monstruosa mão estrangeira, invasora de nosso
mundo particular,
a arrancar de mim sem piedade uma grande parte.
Foi-se para todo o sempre meu pequeno tesouro particular,
pequeno em valor e em tamanho, imenso em histórias e
sentimentos
que foram delicadamente construídos através de passos dados
por espaços por onde não passarei mais; nunca mais.
Pois ao passado não nos é dada a possibilidade de voltar.
Foi-se, levado por mãos de ratos, uma parte de meu passado:
lembranças minhas, lembranças de amigos e família,
lembranças de minha Mima.
Sobrou apenas o nó na garganta e a dor no peito que causou
tal amputação,
mágoa temperada pelas águas salgadas do mar que chegaram
e me alagaram. Afogaram-me.
Nenhum comentário:
Postar um comentário