Amanhã
Amanhã, 21 de novembro, minha mãe
faria 75 anos. Pois, o mundo dá voltas e nas voltas que ele dá nos enreda para
todo o sempre com seus causos e estórias e nos leva por caminhos que não
pensávamos trilhar. Lembrei-me, nesta semana, de que dizia a minha mãe que
seria muito divertido quando nós duas fossemos duas senhoras. Eu com meus 70
anos e ela já uma senhora maluquinha e centenária. Seria muito bom e eu
esperava por isso. Esperava ainda por muito mais, mas, de um repente, a vida
rodou feito pião, à la Chico Buarque de Holanda, e mudou. C’est la vie.
Sinto saudades de minha mãe;
muitas saudades. Saudades das coisas pequenas e cotidianas às quais nunca damos
o devido valor. Saudades de poder pegar o telefone e ouvi-la desde longe. Saudades
das suas risadas plenas e sem restrições. Saudades do seu colo e do bolinho de
batata que ela fazia. Nunca imaginei em toda a minha vida que eu não teria mais
os bolinhos de batata de minha mãe. Nunca prestei muita atenção na receita que
não existia em livro algum e que ela sabia porque sabia e ponto final. E apesar
de tê-la ajudado muitas e muitas vezes a fazê-los, não os consigo reproduzir. Falta
na receita um produto que não existe mais na Terra inteira; faltam as mãos da
minha Mima.
Às vezes, como em dias como
estes, as saudades apertam mais e dão um nó apertado na garganta e os olhos
choram. Contudo, na maioria dos dias, as lembranças e as saudades são bonitas,
divertidas, morninhas e boas - feito café com leite de manhã. Gosto muito de
todas as boas e bobas lembranças da Mima e as carrego comigo, e já não me
recordo mais se algum dia houve qualquer tristeza e mágoa entre nós duas. Penso
que não. Porém, como me disse minha amiga Kaká sobre as lembranças de seu pai: “com
o tempo ficam apenas as boas lembranças, os momentos bonitos e felizes. Com o
tempo, as mágoas desaparecem.” Pois, pode ser que eu já esteja a me enganar,
não faz mal. Faz bem; faz-me bem.
Pena não haver aplicativo tipo Whatsapp
e/ou qualquer outro canal de comunicação lá com o Céu. Pena mesmo, porque é
muito estranho não poder dizer nada a sua mãe no dia do aniversário dela. Aliás,
essa é uma falha gigantesca no projeto divino a meu ver; com todo respeito que
a Ele devo. Porém, e mesmo assim, cá está tudo o que eu queria poder dizer a
Mima amanhã. Queria dizer que a amo muito, que sinto saudades e que ela está a
ficar uma velhinha bué abusada. Queria enviar beijos e beijos e beijos e
abraços apertados e longos. Queria poder dizer, Feliz Aniversário Mima, te amo!
Texto lindo Mari!
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