Dois
Tudo tem começo,
meio e fim. Sei disso; sempre o soube. E apesar disso, e apesar de estar tão
ciente a respeito da ordem e dos fatos da vida; mesmo assim, os fins são excruciantes
para mim. Apego-me às pessoas e à minha realidade particular, sinto saudades
doídas, sou vergonhosamente passional e exagero nas reações nos momentos em que
sinto ciúme dos amores, da família, dos amigos. Uma vergonha para alguém com a
minha idade, não? (Sorriso)
Talvez seja
mesmo uma vergonha, porém, não consigo deixar de gostar e de querer a quem gosto
perto de mim. E algumas vezes esse gostar revoluciona-me, revolta-se. Sou egoísta
como apenas os filhos mais velhos sabem ser, afinal, durante um tempo, tudo no
mundo era meu. E assim, entender que o que eu quero não é o querer do outro não
é muito fácil para mim. Sou mandona, eu sei.
Em agosto serão
dois anos sem a Mima aqui. E não ter mais a minha mãe comigo é o fato sabido
mais inesperado com o qual eu já tive que lidar na vida. Sempre soube que minha
mãe morreria antes de mim. Sempre achei que aceitaria bem a esse fato. Contudo,
quando o tal momento chegou, pareceu-me tão injusto e ingrato. Era cedo demais!
Ainda deveríamos ter anos juntas, e tínhamos tanto a fazer. Meus sobrinhos
ainda teriam que crescer para conhecer realmente a sua avó e dela se lembrarem.
Minha mãe ainda não era uma velhinha. Minha mãe nunca será uma velhinha.
A verdade é que
depois da morte da minha mãe sinto a criança que fui um dia mais perto de mim:
uma menina gordinha, quieta e introspectiva que observa a vida e pensa muito
porque a algumas coisas ela não entende. A verdade é que não é nada fácil isso
de não ter mais a minha mãe por aqui, porque não tê-la mais deixa a sensação de
algo está muito errado nesse mundo. Que esse mundo não é mais o mundo que
sempre foi meu.
Bem, quis dizer
algo à minha mãe no último dia das mães, mas não pude. Em alguns momentos as palavras
andam a faltar para mim por estes dias. Contudo, hoje assisti a um filme que me fez lembrar-me
dos últimos tempos com minha mãe. Então, apertaram-me as saudades e vieram as
palavras. Definitivamente há certos filmes que eu não deveria mais assistir.
Bom... Mima, um beijo pra ti. Sinto saudades e, profundamente egoísta como de
costume, queria você aqui.
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