Saudades Brilhantes
Quando eu era
muito mais jovem do que hoje, menina mesmo, a ideia de que algum dia, num
futuro longínquo, eu morreria assustava-me muito. Sentia-me em pânico, paralisada
pelo desespero que me dava a lembrança de que minha vida seria finita. Pois 1,
apesar de ser algo óbvio afinal todos morreremos um dia, a verdade é que
ignoramos que a morte seja algo real a maioria do tempo. A verdade é que sempre
achamos que temos mais tempo, e que sempre será cedo.
Como bem dizia
minha mãe: “não nascemos para ser semente”, ou seja, não estaremos aqui parados
em estado latente para sempre. A mudança é parte integrante de quem somos e está
impressa em nosso DNA, portanto, a transformação será Ad Eternum nossa sina. Nascemos para crescer, aprender e aprender
mais. Para nos transformarmos; para mudar uma e tantas outras vezes antes da
mudança definitivamente deste planeta.
Seremos então anjo, uma energia, alma penada, e etc. e tal.
Há alguns anos
perdi completamente o medo da morte, apesar de ainda temer muitas das maneiras de
morrer. Como canta Gilberto Gil: “Não
tenho medo da morte, mas sim medo de morrer... É que a morte já é depois que eu
deixar de respirar. Morrer ainda é aqui... Ainda pode haver dor ou vontade de
mijar.” Pois 2, com o passar do tempo eu aprendi e compreendi que a minha morte
será aquela menos sentida por mim. De mim mesma não sentirei saudades, não
haverá lágrimas nos meus olhos pela minha morte; e eu não sentirei falta do meu
abraço e de ouvir a minha própria voz. Mais do que medo, atualmente sinto uma
curiosidade interessante. Como será o lado de lá?
Muito mais difícil
que morrer é perder a alguém que amamos; fato. A perda de quem amamos é dor estranha
que não passa e que se torna nossa companheira diária; uma espécie de mágoa que
nos transforma definitivamente. Eu, por exemplo, sinto-me diferente depois que
a Mima voltou a ser anjo. Sem a Dona Odila aqui me faltam uns pedaços, feito um
quebra-cabeça que perdeu algumas peças. Ainda sou eu, porém, agora há alguns
espaços vazios e sou diferente.
Bom, c’est la vie! Já somos adultos e a vida
continua. E depois de um tempo, ela volta a ser muito boa. Volta a ser a vida
de sempre com seus altos e baixos; com direito a dias mais tristonhos e outros
alegres por demais da conta. Com o tempo, aprendemos que as saudades de todos e
de cada um tem seu espaço dentro da gente. Afinal, nosso coração figurativo,
aquele onde guardamos os sentimentos, terá sempre mais espaço para os amores e as
saudades boas.
A verdade, é que
mais do que a morte de minha mãe, vê-la sofrer me apavorava. Ela não merecia;
ninguém merece. Lembro-me de pedir a Deus que ela não sofresse sem me importar
o quanto tempo teríamos. Ela poderia ir antes de sofrer mais do que pouco; essa
era a única coisa que eu queria. E assim foi, e eu sou grata a Deus. Vê-la
partir foi milhares de vezes mais fácil do que vê-la sofrer. Sendo assim, desejo
a todos que o sofrimento nesta vida seja bem pouco, pouquinho mesmo, e que as
saudades dos que amam sejam bonitas e boas como as minhas saudades da Mima são.
E elas são brilhantes. Amém!
Um abraço apertado ao Dani, meu amigo e afilhado.
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