A Caixa
Meu coração assustou-se uns tempos atrás,
susto de morte,
e por isso, ele escondeu-se numa caixa de madeira
negra e branca
que guardo, cuidadosamente, do lado direito da estante no meu quarto.
Não foi ato covarde o dele, não senhores. Foi ato de sobrevivência;
de preservação da própria existência.
De lá, desde seu esconderijo frio, o dono
do reino dos sentimentos observa a vida como se à ela não
pertencesse.
Faltam-lhe janelas, verdade.
Mas, mais seguro,
ele bate sereno sem os atropelos que os sucessivos sustos
da vida no meu peito lhe causavam.
E eu, de peito mais leve, um tanto vazio, sigo e não o culpo
por ter,
de certa forma, me abandonado.
Apesar de sentir tantas saudades de meu companheiro,
eu sei tão bem quanto ele que a vida tornou-se mais
simples assim:
com o coração exilado, guardado numa caixa de madeira ao meu
lado.
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