Conversas com o Cajueiro
Já conversei
algumas vezes com o cajueiro que está plantado no terreno de uma das escolas
onde trabalho desde que cheguei à Fortaleza. Ele não me responde, claro. Apenas
observa de toda a sua altura as minhas indagações durante todos esses anos. Dezoito
anos depois da primeira vez que o vi, o cajueiro me encanta mais e mais. Pois a
mim me parece que demonstra, com o passar dos anos, a autoridade e a imponência
que só o passar do tempo dá às coisas vivas. O cajueiro é hoje um jovem e sábio
senhor.
Cumprimento-o
pela sua beleza, que não tenho certeza ser vista por todos os olhos que por ele
passam, todas as vezes que o vejo. O fato é que meus olhos o viram cajueiro-menino
ainda: tronco fininho que minhas mãos quase conseguiam abraçar, árvore baixota
de frutos ao alcance dos meus quase 1.60 metros de altura, menino dono de pouca
sombra aos seus pés. Antes tímido, agora ele já se impõe na paisagem e possui
uma sombra que quase alcança a largura toda do seu espaço. Agora meus braços
não são suficientes para abraçá-lo e seu tronco ganhou força e uma casca que denota
respeito.
É bem verdade
que tenho grande amor e admiração pelas árvores como um todo; um tipo de
adoração. Acho-as lindas com sua tranquilidade e sabedoria de quem observa a
vida passar à sua volta. Elas são abrigo, repouso; retiro mais próximo do
divino para mim. Se pudesse escolher, adoraria na próxima vida ser uma árvore
alta a morar numa colina. Deve ser tão bom ser vizinha de flores e casa de
passarinho. Ver borboleta e beija-flor a namorar minhas flores, ser esconderijo
de meninos.
Porém, com o tal
cajueiro a relação é outra. O tenho como meu velho conhecido, um amigo. E por
isso, mais do que às outras árvores da cidade, desejo a ele que continue sempre
ali; que jamais serra alguma ponha seu tronco abaixo, e que ele continue a me
ouvir. A verdade é que ao meu velho calado confidente eu quero muito bem.
No dia da Terra, 22 de abril, uma homenagem ao meu querido cajueiro que, como toda árvore e o nosso planeta, é de todo mundo e não pertence a ninguém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário