Uma Carta
Domingo serão três
anos sem ti, Mima. Será também dia dos pais e isso, essa coincidência de datas,
me incomoda desde o dia no qual tu viraste um passarinho para sempre. Impossível estar
simplesmente feliz sem pensar em nada. Sem lembrar que não estás aqui. Aliás,
estes têm sido tempos difíceis para mim. Ano esquisito, meses estranhos, semana
particularmente difícil, esta, porque... Porque sim. Porque para todos há os
tais momentos difíceis, eu creio. Porque eu sou uma pessoa difícil. Mima, tu tinhas razão. Sou mesmo ranzinza, mandona e com uma paciência tão pequena em
momentos que, às vezes, me assombra ter gente tão boa perto de mim.
Saudades de
ouvir-te me chamar de ranzinza, de escutar tuas bobagens sem fim, de ter colo...
O teu colo. Sorriso. Sei, sou grande, sei tomar conta de mim. Eu sei. Porém,
isso de voltar para São Paulo trouxe cores novas às minhas saudades. Depois de três
anos, as tais saudades são menos agudas, verdade. Contudo, ao mesmo tempo, elas
tornaram-se mais amplas aqui, mais reais. Agora, vivendo na minha cidade, na
tua cidade, as saudades se fazem tão presentes que me assustam. Te queria aqui
comigo.
Sabes, toda vez
que algo ruim acontece no Mundo, eu penso: "que bom que a Mima não está aqui". Mas,
andas a perder as coisas boas também. E isso; isso é foda. Desculpa o palavrão,
mãe, mas é isso mesmo. Das coisas mais bonitas que andas a perder, Mima, estão
os miúdos. Você iria amar ter conhecido a Vitória, ela é uma figura. Menina
danada, falante, divertida e cheia de personalidade. Ela te adoraria, sei bem.
O Nico é mais na dele. Quieto mais do que falante, cheio de mistérios a
esconder o que se passa na cabecinha dele. Lindo. Miguel está a chegar. Terás mais
um neto, mãe! Quem diria?
Eu daqui
imagino-te a espiar tudo d’alguma nuvem, louca para dar opinião em tudo que
acontece. A falar das tuas não importando quando ou com quem. Eu adorava isso! Podias
vir para conversarmos, não? Conversa curta, não peço muito. Me contentaria com
qualquer coisa, umas palavrinhas bobas e umas risadas exageradas. Te lembras das gargalhadas?
Eu me lembro e
sinto saudades tão grandes delas e de ti que as tais alcançariam terras além
mar hoje. Eu estou bem, não te preocupes. Gosto de reclamar, sabes como é. Como
eu sou. Te amo sempre e para sempre. E se puder, baixar aí da nuvem, eu topo
uma conversa à qualquer hora do dia ou da noite. Não precisa marcar hora nem bater
à minha porta, pois toda casa minha será sempre tua também. Fica bem, Mima. Beijos todos.
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