Com a realidade escancarada fica mais difícil fingir que não vemos
não sabemos
não reconhecemos
a falta de amor e solidariedade tão características do mundo brasileiro
Não existe amor em SP
cinza e fria ela e nós seguimos
quase sem vida
Escrever é uma
terapia solitária e desavergonhada que me acompanha há alguns anos. Expressão
mais sincera daquilo que cá por dentro me enche a cabeça e o coração. Gosto muito
de escrever porque a escrita me conforta, porque dessa maneira não se empilham
nem se perdem as ideias e os sentimentos escondidos na cachola que não para de
pensar. Ao escrever guardo-os fora de mim e, sendo assim, a tal escrita é quase
tão terapêutica quanto a meditação.
Tenho escrito
pouco, quase nada. E isso me incomoda bastante porque quiçá me mostre que com o
passar dos anos, destes últimos anos, estou cada vez mais distante de tudo e calada.
(risos) Eu sei, isso de eu estar calada parece piada para qualquer um que me
conheça um pouco melhor. Eu calada é algo tão raro quanto um eclipse solar.
Muito raro mesmo.
É verdade que tenho
escrito pouco porque ando a trabalhar muito. E, não, a escrita não é, e não pretendo
que seja jamais, trabalho. Falta-me talento para tal e gosto de nutrir a bonita
ideia de que ela seja única e exclusivamente uma paixão. Sem regras e nem
razões alheias a mim. Uma vez um amigo me disse que eu gosto de viver como se a
vida fosse poesia. Um tanto fantasiosa e dramática. Pois, ele tinha razão.
Por esses dias,
em meio a tal pandemia, tem me sobrado um pouco mais de tempo e há dias ensaio
colocar no papel digital algumas
palavras. Só ensaio. Sobra-me tempo; falta-me a vida talvez? Não sei. O que sei
é que me sinto em suspensão, como se estivesse a flutuar no espaço sem direção.
Vago, náufraga à deriva, sem sair do lugar e foge-me qualquer sentimento e
quase todo pensamento. Quiçá muitos sintam-se assim, um tanto perdidos sem
saber muito bem o que sentem e pensam de tudo que temos vivido por esses dias.
A única certeza
que tenho é de que não vejo a hora de sair por aí. Quero encontrar os amigos,
abraçar meus miúdos, sentar numa mesa de bar, andar de bicicleta no Ibirapuera,
ir ao cinema, fazer uma festa em casa cheia de gente, viajar. Quero a rua!
Bom, é fato que
algumas coisas boas ganhamos com a tal pandemia e a quarentena que parece
eterna. Eu ganhei muitos dias e muito tempo com o meu pai. Há alguns anos não passávamos
tanto tempo juntos e quase já sinto falta destes dias com ele porque sei que
eles terminarão. Dias de muitos jogos antigos de futebol na TV, de yoga pela
manhã, de almoços com conversa e de uma companhia que a mim me fazia falta;
muita falta.
Uma voz a menos cantando quem somos nós,
e o Brasil mais silencioso
e eu a lamentar o fim de quem esteve aqui a minha vida inteira
mudos por cá nós choramos a perda de Moraes Moreira.
Preta, Preta, Pretinha acabou.
Já não descemos mais a ladeira a cantar