reflexo
Uma senhora espia-me pelo espelho
Não a conheço; mas me reconheço
Vendo assim o futuro, assustador e certo,
e quem um dia eu serei
Eu seria
Eu não sei
Não sei o quanto isso importa para mim ou para qualquer um
Deixei de ser eu mesma e, por isso mesmo, tornei-me quem eu
deveria ser
Sinto saudades
Minhas vontades todas continuam a tagarelar na cachola, e
tudo que ainda há por fazer
me assombra
deixando apenas uma única dúvida que paira sombria: o tempo
será o bastante?
o bastante para tudo que preciso fazer acontecer
Vou segurar os ponteiros, feito Superman, a voar contra o
tempo
e quiçá...
Quiçá o tempo me traga, com bons ventos, a nau que há muito
perdeu-se pelo mar
Sinto uma paz que não imaginei sentir e me vejo, fora do
espelho,
a gostar mais de mim
a lembrar-me com muito carinho de ti como se fora um sonho
bonito
Ando a sonhar pouco
Quase nada
Talvez mais preocupada com a realidade que por cá sentou-se
no meu colo há anos
E daqui não sairá
Não sinto mais medo, apesar de perceber que o corpo começa a
despedir-se
E sei
Serei estrela ínfima na via láctea a vagar
Depois de uma vida inteira a ser estrela no fundo do mar
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