sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
... então...
Verdadeiro
Quero amor de bandolins, doce e melancólico.
Suavemente manhoso e de alma alegre,
Que cheire à madeira e vinho, à terra, folhas, e serra.
Quero um amor de dedos entrelaçados
Ultrapassando tempo e espaço
Que faz os olhos brilharem a sorrir.
Amor que dá sentido ao desejo
Que faz verdadeiro o beijo
Que enche o peito e nos diz,
Como um velho poeta,
Que tudo vale a pena
Se tu deixas a tua alma invadir.
Quero um amor de frutas frescas, macio e suculento
Regado com carinho, afeto e um pouco de apego.
Amor que traz chuva de sabores e dá vida à boca
Ao fazer da vida pouca a mais bela aventura louca
Que faz o sangue fervente fluir.
Quero um amor sagrado, onde nada é pecado
Abençoado ao fazer a vida nascer em mim
Por ti.
O Gosto
Gosto do sabor de dentro da tua boca
E do som da água que desce pelo teu peito.
Gosto do jeito que segura o meu queixo
E do gosto amargo das tuas mentiras.
Gosto dos cheiros, pêlos e cabelos
E da cor que traz pra contrastar com a minha.
Gosto do peso que faz em cima
E do sentimento que me alucina.
Gosto que gostes do gosto que sinto por ti.
Meu Veneno
Numa noite dessas
Meus dedos estarão enroscados em teus cabelos
Calmos a embalar sonhos amenos
Sentindo morno o teu cheiro
Ouvirei o ritmo do coração em teu peito
E dele cuidarei com todo o zelo
Numa noite dessas
Não haverá mais a morte ou o tempo
Sem lugar esquecerei a solidão e o desespero
Pois doce me será teu veneno
Amor que vive agora em desterro
Numa noite dessas
Vou perder-me em ti
Vou senti-lo em mim
Vou comprar uma caravela, fazer a viagem inversa,
numa rota paralela para aportar em tuas terras.
Prepara tua espada, pois haverá guerra,
e não terei pena ou compaixão.
Vou te jogar ao chão e será como na selva:
carnificina à moda antiga.
Prepara-te português,
pois será a tua vez de sofrer em minhas mãos.
Já afiei as garras, cortei as amarras e o oceano me espera.
Afia a tua espada e estejas bem preparado,
para o combate tão esperado,
sê dedicado.
E então, talvez, poupe tua vida
e te faça meu eterno escravo
que de ti já estou cativa.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
O Futebol
Aviso aos navegantes deste texto que ele não é para aqueles que acham que futebol é um esporte de bárbaros, de gente nada inteligente, definido como: um bando de marmanjos correndo irracionalmente atrás de uma bola. Pois o futebol é, e será sempre, uma paixão para todos que entendem o que acontece dentro do campo, seja este na Espanha, no Brasil, na África do Sul ou no Japão.
O futebol é um esporte onde podemos ver a lógica e a técnica realizadas de forma prática, instintiva e coreográfica assim como dançar. A demonstração do pensamento pelo corpo em movimento. O jogador, a conduzir e a ser conduzido por aqueles que bailam com ele, segue o ritmo da partida e baila com a bola na nossa frente. Não há corpo que possa ficar inerte e tudo se mexe: músculos, ossos, nervos e pele. Há as explosões velozes dos atacantes os quais disparam tal flecha rumo à meta como um Bolt jamaicano, há os gigantes da defesa que conseguem trançar-se entre as pernas dos adversários e roubar-lhes a bola quase a quebrar a teoria que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar e tempo no espaço, há o goleiro de reflexos mais rápidos que o pensamento com seus vôos de águia leves e certeiros e, há os passes em vetores de distância e velocidade perfeitos antes do gol derradeiro. Nós que estamos do lado de fora das quatro linhas santas, onde tantas vezes milagres acontecem, bailamos com eles. Pulamos, abrimos os braços, chutamos a bola num reflexo e seguimos os movimentos dos jogadores irracionalmente encantados a ouvir a mesma música que eles. Todos loucos para dançar.
Os incrédulos podem dizer: Ah, mas há os pernas-de-pau, há as partidas sonolentas onde nada acontece, há os frangos terríveis e fatais. Verdade, isso até há. Mas então temos outra importante razão para amar o esporte bretão: O futebol nos redime do nosso cotidiano sem fantasia ao trazer consigo a crença no impossível, no milagroso, no religioso. Sei que Deus não é só brasileiro, mas com certeza em nenhum outro esporte a fé e a crença num poder superior estão tão presentes. Os times têm seus santos padroeiros e, se seu time está em má situação você ora, une as mãos, ajoelha e pede em contrição verdadeira. Nos dias de jogo os amuletos estão invariavelmente presentes, e neste quesito vale tudo: Terço bento, bandeira, de camisa a cueca da sorte, lugar onde você se senta para assistir a partida, e pessoas que podem assistir o jogo com você ou não. E, num momento de salvação de uma vida inteira, momento de glória suprema, você grita repetidamente para o mundo ouvir: CAMPEÃO... É CAMPEÃO! E sente-se abençoado por Deus durante pelo menos uma temporada inteira.
Por fim, ter um time do coração é como pertencer a uma nação. É ter orgulho de feitos que você tem como seus, pois você faz parte desta nação e se enrola na mesma bandeira que seus compatriotas da bola. Na sua condição de torcedor, o que difere muito da de jogador, não há dinheiro que te faça trocar de time do coração. Essa é uma paixão cega e um amor fiel para a vida inteira.
PequenosDetalhes
Sentou-se cansado na cama e seus grandes pés descalçaram os Nikes brancos que, sem perceber, haviam ficado ao lado das altas e pequenas Havianas dela. Assim, olhando friamente, via quão desproporcional era aquele par, pois não havia como acomodá-los de forma bela e simétrica. Onde estaria agora sua mulher de pés pequenos e horários malucos? Não haviam se falado o dia inteiro, e aquilo, àquela hora da noite, começava a incomodá-lo. Não pôde deixar de pensar como sapatos tão pequenos haviam trazido tanto para ele: tormento e aconchego, alegria e medo, prazer e uma dose de novos problemas. Sem querer se conheceram, e ele se interessou por aquela mulher pequena por sua personalidade doce e independente. Ela não era o tipo de mulher que o interessaria normalmente; afinal, onde estavam os seios fartos e as longas pernas que o deixavam sem fôlego? Estas formas nunca caberiam naquele corpo que parecia ter se esquecido de crescer e que combinava com tudo que era ela: uma mulher que não aprendera que não deveria ser mais uma menina com riso fácil e sonoro, com brincadeiras manhosas e eterna disposição para tudo que ele quisesse fazer. João não sabia se ele mudara por ela ou se ela o fizera mudar, mas ele sabia que não era mais o mesmo. Ela também não, talvez? Onde estaria agora aquele homem que prezava, mais que tudo, seus momentos de solidão e suas noites com a cama somente para si? O homem que buscava desculpas para, depois do sexo, voltar rápido e satisfeito para seu apartamento vazio. Ana o fizera mudar, definitivamente. Ela se agarrava a ele na hora de dormir, prendia-se a suas pernas e seus cabelos longos e, muitas vezes, dormia sobre ele. Estranho que aquilo que o irritava tanto antigamente fosse o que mais gostava de sentir hoje. Já não sabia dormir sem senti-la ali, sentir seu calor e ouvir suave aquela respiração. Momentos onde tudo parecia correto num mundo calmo e morno. Ana certamente o amava e isso, apesar da insegurança que o assombrava às vezes, fazia com que ele se sentisse muito bem, mais interessante e bonito do que realmente deveria ser. Ele sabia que jamais, mesmo que viesse a se separar dela algum dia, esqueceria aquela mulher e tudo que ela lhe sussurrava ao ouvido. Palavras lindas, diferentes e que para ele faziam todo sentido, Ana lhe dava poesia enquanto lhe fazia carinho. Ouvindo a porta, João quebra seus pensamentos, caminha até a sala e sorri ao ver aquele sorriso. Finalmente havia chegado sua pequena, o mundo estava perfeito.
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