terça-feira, 25 de janeiro de 2011

PequenosDetalhes

Sentou-se cansado na cama e seus grandes pés descalçaram os Nikes brancos que, sem perceber, haviam ficado ao lado das altas e pequenas Havianas dela. Assim, olhando friamente, via quão desproporcional era aquele par, pois não havia como acomodá-los de forma bela e simétrica. Onde estaria agora sua mulher de pés pequenos e horários malucos? Não haviam se falado o dia inteiro, e aquilo, àquela hora da noite, começava a incomodá-lo. Não pôde deixar de pensar como sapatos tão pequenos haviam trazido tanto para ele: tormento e aconchego, alegria e medo, prazer e uma dose de novos problemas. Sem querer se conheceram, e ele se interessou por aquela mulher pequena por sua personalidade doce e independente. Ela não era o tipo de mulher que o interessaria normalmente; afinal, onde estavam os seios fartos e as longas pernas que o deixavam sem fôlego? Estas formas nunca caberiam naquele corpo que parecia ter se esquecido de crescer e que combinava com tudo que era ela: uma mulher que não aprendera que não deveria ser mais uma menina com riso fácil e sonoro, com brincadeiras manhosas e eterna disposição para tudo que ele quisesse fazer. João não sabia se ele mudara por ela ou se ela o fizera mudar, mas ele sabia que não era mais o mesmo. Ela também não, talvez? Onde estaria agora aquele homem que prezava, mais que tudo, seus momentos de solidão e suas noites com a cama somente para si? O homem que buscava desculpas para, depois do sexo, voltar rápido e satisfeito para seu apartamento vazio. Ana o fizera mudar, definitivamente. Ela se agarrava a ele na hora de dormir, prendia-se a suas pernas e seus cabelos longos e, muitas vezes, dormia sobre ele. Estranho que aquilo que o irritava tanto antigamente fosse o que mais gostava de sentir hoje. Já não sabia dormir sem senti-la ali, sentir seu calor e ouvir suave aquela respiração. Momentos onde tudo parecia correto num mundo calmo e morno. Ana certamente o amava e isso, apesar da insegurança que o assombrava às vezes, fazia com que ele se sentisse muito bem, mais interessante e bonito do que realmente deveria ser. Ele sabia que jamais, mesmo que viesse a se separar dela algum dia, esqueceria aquela mulher e tudo que ela lhe sussurrava ao ouvido. Palavras lindas, diferentes e que para ele faziam todo sentido, Ana lhe dava poesia enquanto lhe fazia carinho. Ouvindo a porta, João quebra seus pensamentos, caminha até a sala e sorri ao ver aquele sorriso. Finalmente havia chegado sua pequena, o mundo estava perfeito.

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