A noite estava quente, apesar de ainda não ser verão, e apenas uma brisa leve podia ser sentida lá fora. João e Ana estavam há algum tempo naquela festa abafada e cheia. Ele meio incomodado com toda aquela confusão e ela, depois de algumas cervejas, dançava e ria se divertindo; dois opostos sempre. Ana adorava estar no meio da multidão, isso sempre lhe fez bem, excitava-a. João sabia muito bem disso e, apesar de não gostar nada da situação, suportava de bom grado toda aquela irritação por ela. Passava um pouco das três da manhã quando Ana aproximou-se e beijou-o forte e demoradamente; sinal claro de sua intenção e de que era hora de ir. Sempre cheia de vontades essa menina mimada, pensou João decidido a deixá-la com suas vontades durante um tempo e ignorá-la. Ela sempre o fazia obedecê-la mesmo sem dizer nada, e isso o incomodava um pouco. Afinal ele era o homem, o mais forte, aquele que deveria dizer o que eles iriam ou não fazer. Mas ela, ainda sem dizer nada, sorriso doce, apertou o pau do namorado. Só um carinho, diz Ana, mansa e com olhos de gato a pedir algo. João sorri, adorava a sua pequena; adorava todas as suas pequenas loucuras e sua maneira divertida de levar a vida. Ela é o meu lado B, dizia aos amigos. Ela era aquilo que ele escondia dentro de si, seus sentimentos e medos. Definitivamente estava perdido, não havia como resistir, não havia como não querer. Em cinco minutos estavam na rua, noite fresca e de lua grande e branca. O carro estava a três quadras do bar, numa rua pequena e sem saída. Àquela hora não havia ninguém, nenhuma luz vinha dos apartamentos ao redor, nenhuma janela estava aberta; a rua e o mundo estavam em silêncio. Ana sentou se no capô do carro sem pensar, instintivamente. Ela nunca sabia de onde vinham suas vontades ou suas idéias, mas sabia que precisava obedecê-las e o fazia sempre. Puxou-o pela cintura esperando por uma reação. Estava a desafiá-lo ou a convidá-lo? Não sabia bem, mas sabia que com ele não havia lugar para o medo, para as incertezas ou os preconceitos. Amava-o mais do que a si mesma; João era sua terra firme, seu ombro seguro até o fim. Eles não disseram nada, apenas seguiram em frente. Ela sentia o metal frio nas costas contrastando com todo o calor que vinha dele. A brisa nas pernas, e o coração louco dentro do peito com a mistura de prazer e perigo que a atraía desde pequena. Havia certa urgência e força nos gestos dele, João a conhecia bem. Conhecia sua necessidade de sentir que não poderia escapar mesmo que quisesse. Ele segurou-lhe os pulsos juntos sobre a cabeça com a mão direita, ela queria gritar. Parecia que explodiria a qualquer momento, que todos os sentimentos iriam sufocá-la, matá-la. Não deveria gritar ali e beijou-o sem fôlego até o fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário