quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Incompleta

Multidão - Pedro Noel da Luz

 

Soltar o abraço, deixar o laço
e ir-se ao mesmo tempo que se deixa ir
parece-me à morte,
a morte de muito do que há em mim.
sou eu mesma, mas não deixo de ser o que há
de meu nos outros,
e sou eu mesma, mas sinto-me vazia, oca,
sem o que há dos outros em mim.
apego-me, apreço inerente ao meu ser,
de um bem querer sem fim que,
por vezes, apavora.
desconheço a paz daqueles que não se importam
que não se incomodam,
que sentem-se completos à sós e,
por isso, sou apenas uma parte,
a metade, algo incompleto por natureza;
uma alma coxa do princípio ao fim.
preciso, irremediavelmente,
 do outro
para o meu pleno existir.

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