segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A História de João e Valéria (parte 3)


Valéria não acreditava no que ouvira. O monstro com asas gigantescas e barrigão que mais parecia um balão não a comera. Não senhor! Muito ao revés de feri-la, o tal sujeito cheio de penas queria era saber se ela estava bem. Por isso, mesmo ainda cheia de medo e com suas pernas, grossas como fios de cabelo, a tremer feito bandeira em dia de vento, a borboleta abriu seus olhos bem devagarzinho.  Pois que não havia outro jeito de fazê-lo, já que as pestanas da menina pareciam ter dado as mãos de tão grudadas que estavam umas nas outras.
Contudo, assim que os olhos conseguiram coragem e se abriram, eles viram o João bem de perto. E, àquela distância perceberam a carita de bons amigos que tinha o passarinho. O sabiá, zeloso com a menina, passou bem suave uma de suas asas por detrás da pequena cabeça dela e a levantou com uma gentileza bonita para que ela pudesse beber um pouco da gota d’água que, com a outra asa, o amigo-sabiá oferecia.
“Beba um gole de água para ficar mais calminha e ganhar fôlego, borboletinha.” Disse João. E, assim fez a borboleta menina. Percebendo, à medida que a água descia pela goela adentro, que desaparecia todo o medo dela. Apesar de Valéria ainda não o saber, naquele momento uma nova amizade se fazia.
João sentou-se ao lado da borboleta e esperou um pouco para ver se ela lhe dizia algo. Afinal, era a primeira vez que ele iria conversar com uma borboleta e aquilo o deixava muito nervoso mesmo. Mas, como nada saía da boquinha da menina, ele decidiu se apresentar.
“Olá. Meu nome é João. Qual é o seu?” João fez a tal pergunta e ficou a olhar para a nova amiga a espera da resposta que demorava muito a sair. Tanto demorava que o pássaro já imaginava se ela havia compreendido a sua pergunta. Talvez as borboletas não falassem a mesma língua dos pássaros e ele, que na escola não havia estudado outros idiomas, não sabia uma palavra de borboletês. “Que problemão seria aquele, não?” matutava o sabiá.  Foi daí, no meio da cisma, que João ouviu: “Eu me chamo Valéria. Muito prazer!”
“Sim, sim, o prazer é todo meu.” respondeu João apertando a mão-tamanho -miniatura da amiga. “Desculpe-me se te assustei, não tive a intenção. Mas..., é que te vi ali sentada tão tristonha, tão pensativa e... E eu achava que para uma borboleta era impossível ficar triste porque vocês são tão bonitas. O que há de errado Valéria?”
Valéria olhou-o mais curiosa ainda, mais do que tudo na vida, ela não imaginava que um bicho grande como aquele se importaria com ela. E, por isso, quis dividir com ele aquele segredo pesado que andava apertando seu peito há muito tempo.
“Sabe o que é João.” Começou ela. “Eu queria muito conhecer o mundo, sair daqui do meu jardim para ver tudo o que existe por aí. Só que eu sou uma borboleta muito pequena e não nasci para isso porque minhas asas não têm a força necessária para tal aventura. Queria tanto ser como as borboletas monarcas que voam muito, muito longe. Já até sonhei ser uma delas e passar sobre lagos, florestas, montanhas e nem sei mais o quê. No meu sonho vôo tão longe... Mas isso não é para mim.”, suspirou ela, “tenho que ficar aqui. Conhecer no máximo umas poucas ruas, casas e jardins que ficam perto daqui.”
João apertou os olhos como fazem meninos danados quando têm idéias fantasticamente boas e malucas e, com as asas na cintura gritou: “Tive uma idéia, eu já sei! Vamos nós dois nesta aventura pelos céus. Eu sou pássaro, não tão grande quanto o gavião. Eu sei. Mas posso voar bem e carregar-te não será problema. Faremos a viagem por partes, um pouco a cada dia: hoje aqui, amanhã ali. E, tcharam, um dia acordamos no Japão, se quisermos. Que tal, quer viajar comigo?”
Os olhinhos de Valéria arregalaram-se tanto à medida que João falava que, ao final, pareciam ter dobrado de tamanho. Ela e seus olhos não se continham de tanta alegria e, iluminada, a borboleta menina abraçou o novo amigo já sem medo algum. Algo lhe dizia que poderia, sim, confiar nele e que seu sonho realizar-se-ia afinal.
“Você me ajudaria mesmo, João? Posso confiar? Vai mesmo fazer esta viagem comigo?” perguntou apressada a amalucada borboleta voando ao redor de João. “Claro!” riu-se o sabiá. “Pode confiar e, além do mais, eu também andava a procura de uma aventura; e esta sua me parece genial. Vamos conhecer o Mundo!” exclamou João.
“Xiiii..., será que a minha mãe vai deixar?” lembrou Valéria já meio amuada. E até que ela tinha razão para a carita preocupada, pois, sua mãe era muito brava.  “Vamos lá pedir para ela. Eu te ajudo” ofereceu-se o amigo. Assim, com toda a coragem de volta para seu corpo, sorriu Valéria dizendo: “Vamos logo, então!”
E, assim partiram os dois em direção a casa dela.


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