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Foi mesmo um aperto para o João passar pela porta sob medida para borboletinhas. Mas com muito esforço e deixando para trás algumas de suas penas, ele conseguiu. Porém, o que seus olhos de ave viram assim que entraram na casa da borboleta, valeria passar por mil apertos mais apertados do que aquele. Tudo na casa de Valéria parecia ser feito pelas luzes que entravam pelas muitas janelas espalhadas por toda a pequena caverna que, à luz do dia, mais parecia um sonho de olhos abertos. Um lugar onde tudo parecia iluminado e leve, como se o peso do mundo não reinasse ali.
E os olhos, ai os olhos! Os olhos viam tons que iam do laranja mais forte ao amarelo quase branco, azuis transparentes e verdes tão vivos que pareciam respirar. E havia flores, muitas flores. Flores tão pequenitas que Valéria ficava muito grande perto delas. Flores espalhadas pelo chão que pareciam rendas delicadas e perfeitas, feitas por mãos de fadas do jardim, de um tipo que o sabiá nunca havia visto.
E João estava assim: apaixonado pelo que via, tão distraído pela beleza, que nem notou quando a mãe de Valéria apareceu na sala carregando um prato cheio de gelatina vermelha de framboesa. E foi apenas com o grito, forte e terrível, que saiu da goela dela, que João notou que havia mais alguém ali.
“Aaaaahhhhhh, um mostro aqui!” gritou Dona Maria que, num desespero sem fim, voou para perto de Valéria e puxou-a, arrastando a filha dali. Uma verdadeira confusão feita de gritos e de gelatina vermelha a voar, feito rã num salto, para, logo depois, esparramar-se pelo chão. E João, pela segunda vez no mesmo dia, ficou com cara de parvo sem entender patavina do que passara diante de seus olhos espantados e duvidosos. Alguns minutos sonolentos haviam passado sem que nenhum ruído se ouvisse. “Ai-ai, o que será agora?” perguntava-se o pássaro quando viu a porta, antes fechada com violência, abrir-se lentamente. Foi nesse minutinho que o sabiá viu a cara de brava de Dona Maria a olhá-lo como se pudesse esmagá-lo com os olhos. Parecia que sairiam raios deles, a La desenho japonês, de tão vermelhos e apertados que eles estavam. Talvez saíssem mesmo as tais chamas de dragão que justificariam o apelido que João dera a ela.
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