segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A História de João e Valéria (parte 6)


6
Maria, a mãe de Valéria, havia ouvido toda a explicação de sua filha, mas não estava nada convencida de que poderia confiar naquele sabiá. Como poderia ela? Afinal, sabiás costumavam comer insetos e nisso incluíam-se as pequenas borboletas também. Como acreditar que sua pequena não serviria, no meio da aventura maluca dos dois, como um lanche da tarde para o passarinho que se passava por seu amigo?
Por isso, apesar do medo que corria em suas veias, a mãe borboleta decidiu enfrentar, sozinha, o inimigo. Por isso, apareceu na sala com a cara mais brava que conhecia, fingindo não sentir medo algum. E, assim que olhou bem direto nos olhos do João, foi logo perguntando que maluquice era aquela.
“Que bobagem é esta que acabou de me dizer a minha Valéria? Que história é essa de que vocês, os dois, vão sair pelo mundo numa aventura? Digo logo que não vão, não senhor! Você acha que eu sou boba? Acha que não sei que pássaros como você comem borboletas como nós? Estão loucos! Não vão e ponto final!”
Enquanto brigava com João, Maria não reparou na tristeza sentida que nascia na cara do sabiá. João ficara realmente triste, tão triste que seus olhos pareciam prontos para chorar. Vendo aquilo, Maria parou de gritar com sua voz pouca de borboleta e, foi então que falou o João.
“Desculpe-me.” Pediu João. “Sei que a senhora tem razão. Mas, eu nunca comi nenhuma borboleta porque acho que vocês são as criaturas mais bonitas que eu já vi. Juro para a Senhora. Vi a Valéria tão triste, e triste andava eu também, tão só. Por isso, quis falar com ela lá no jardim. Quis saber que tristeza era aquela que se parecia tanto com a minha.”
Dona Maria ouviu tudo aquilo e sentiu, sabe-se lá Deus porque, que o passarinho não mentia. Mesmo assim, aquela era uma loucura maluca demais para ela. Onde já se viu uma coisa como essa: um sabiá e uma borboleta a viajar juntos por aí? E, apesar de acreditar nas intenções do João, a mãe de Valéria disse que não. “Você me desculpe passarinho. Mas esta história é sem pé nem cabeça demais. Com você minha filha não vai viajar. Sinto muito, minha resposta é não.”
A porta da casa das borboletas foi aberta, e dela saiu João, triste de dar dó e com os olhos redondos marejados e pequeninos que só. Dentro da casa ficou Valéria a chorar bem baixinho. Ela havia perdido seu amigo e, com ele, seu sonho de conhecer o mundo inteirinho.

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