terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Criatura


No gramado deitada sob o sol sei quem sou,

porque nasci e o que devo fazer aqui.

As folhas finas me acolhem e o sol me abraça.

Calor.

Vim para sentir a imensidão azul

sobre mim e não pensar.

Sensações e emoções

irracionalmente livres,

cheias de toda a bondade e a fealdade

que há em cada  existir

correm em meu quintal sem

censura.

Sou uma criatura.

Simply beautiful...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

É Crer para Ver





Não, não estou a cometer um erro crasso invertendo a ordem certa do tal dito popular. E, São Tomé que me perdoe, mas isso de ter que ver, e com um olho bem aberto de tão desconfiado, para só então crer mais atrapalha do que ajuda a vida de qualquer cristão. Afinal, parece-me óbvio que precisamos mesmo crer, pia e cegamente muitas das vezes, para só depois ver. A tal crença, que pode até ter um quê de divina ou não, é mesmo aquilo que move todo ser humano. É parte do que, e de quem, somos: um defeito bonito em nosso DNA que faz com que alguns de nós nasçamos com o pescoço nas nuvens e a cabeça muito além.

É certo que todos nós temos momentos difíceis, que a vida não é fácil, que sentimos muito cansaço depois de um dia cheio, e todo o blá-blá-blá de mazelas que quisermos enfileirar aqui. Sei muito bem que nos decepcionamos com as pessoas e com nós mesmos porque estamos, todos nós, a léguas daquilo que gostaríamos de ser. Mas, mesmo assim, com todos os problemas e com toda a realidade crua que nos consome, vale muito à pena contrariar todas as regras e a lógica e, desavergonhadamente, sonhar e crer.

Claro! Afinal, onde estaríamos nós sem aqueles que ousam sonhar? Sem os malucos que ignoram limites, e se jogam num feliz mergulho de cabeça em direção àquilo que acreditam ser possível, muito provavelmente não voaríamos por todo canto com ares de passarinho hoje em dia. Tão pouco, seríamos capazes de substituir partes de nosso corpo e, mesmo sem pernas, ainda corrermos como um Hermes moderno a realizar sonhos. Não seríamos capazes de carregar milhares de canções, imagens e bibliotecas inteiras com nossas mãos. Seríamos? E pensar que ainda perdemos tanto tempo nesta vida acobardados num canto apenas por medo do ridículo que podemos parecer com nossas ousadias. Ah, quanta bobagem isso...

Ridículo é não ter coragem de tentar, é desistir de idéias, de sonhos e de desejos sem insistir até o fim; até não poder mais. Não que eu seja uma otimista inveterada, não é bem assim. Tenho também meus momentos sombrios e descrentes. Mas, simplesmente, resolvi ignorá-los e ir atrás do que sinto e acredito sem encontrar desculpas para não fazê-lo pelo caminho. E, me restará recomeçar se, ou quando, eu quebrar a minha carita uma vez mais. Pra isso é que inventaram a ortodontia e a cirurgia plástica, vamos combinar!

Sejamos então, vez ou outra, bem ridículos, piegas e sonhadores como só os desatinados o sabem ser. A vida deve, obrigatoriamente, ser vivida. E, pra entortar mais um ditado: se não faz mal a ninguém, que mal tem?

Beijos e muitos sonhos e loucuras pra todos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Naufrágio


Horas são dias
nas noites arrastadas sem sono.
Dias que não são meus, de uma vida que não é minha.
Que vida é esta onde não me vejo? não me reconheço.
Invade-me o enjôo forte de um naufrágio d'alma afogada por ondas
eufóricas e melancólicas que se revezam a esmurrar o costado nu,
exposto.
Horas são dias em meio ao silêncio. Onde está a minha cama? Meus
Pássaros e todas as suas certezas?
Perdi-me voluntariamente numa solidão do tamanho de meus sonhos.
Perdi-me. E o sono e a paz não me encontram mais.
Sou náufraga.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ao Divino


    Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem, nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se quebrem sem ao meu corpo, amarrar.   

Apaixonada


... por ti

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

semSentido

sorriso

No teu sorriso de Buda
mora um pouco menos
acanhado
um menino satisfeito
dono de brinquedos sonhados.
No teu sorriso de gato de Alice
mora um pouco menos
calado
um homem satisfeito
dono de engenhos realizados.
Mas é bem no canto da boca,
no teu sorriso de Monalisa
que moram homem e menino
misturados
donos de sentimentos
esquecidos
 há muito perdidos
                                     reencontrados.


O mar

Todos os dias vejo este mar azul
esverdeado
da janela do meu quarto
e ele me parece mais real
concreto e certo
que todo este cimento armado,
este asfalto-mar acinzentado.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Happy Valentine's Day = )

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes (Claro!)



Brigando pelo rádio (do carro)


Num dia destes, de repente, ele sentou-se no banco do passageiro ao meu lado; bem sem cerimônia e sem mais nem menos. Sem me pedir se podia ou não. E, a verdade é que não havia necessidade alguma de pedir porque, afinal, Lucas já tinha idade para isso - 11 anos completos então. Mas, naquele instante, lembrei-me dele pequeno no banco de trás; um menino tagarela e magrelo, às voltas com seus carrinhos e um ou mais Power Ranger nas mãos. Lembrei-me da vontade que ele tinha de sentar no banco da frente, de pedir e pedir, de brigar comigo, às vezes, e de ficar bravo e com um bicão de tamanduá pro meu lado. Isso, porque eu sempre dizia um redondo e ditatorial - Não!
Nunca deixei Lucas andar no banco da frente durante todos aqueles anos por vários motivos, por todos eles, acho eu: por medo que algo acontecesse com aquele menino que eu amava, que amo, mas que não era meu, por medo que a polícia realmente ralhasse comigo por desobedecer à lei, ou simplesmente porque aquilo era o certo a fazer (meu jeito Caxias de ser que não me deixa transgredir muito a lei, eita!).  Não importava, o banco da frente era território proibido para ele e ponto final. Por isso mesmo, vê-lo naturalmente, e com direitos a isso, sentado a meu lado assustou-me naquele momento: Lucas havia crescido.
Contudo eu, tia-de-primeira-viagem de adolescentes, não percebi o sofrimento que isso significaria para mim dali para frente. Pois, no instante que ocupou o assento a meu lado, Lucas (e seus dedinhos de ouvidos pop) tocou no dial do meu rádio. Que tortura, meu Deus! Uma heresia tão grande e inominável ocorreu que o pobre Jacques, meu carro francês acostumado a Rock, Blues, Jazz, MPB e etc. e tal, só não enfartou porque lhe falta coração para tanto: Kate Perry tocando no meu rádio. E eu? Eu, apesar de odiar o som da tal Perry, o deixei ouvir o que queria; fazer o quê?
Claro que me agrada muito vê-lo assim: um menino grande a questionar-nos. Um ser que já se acha homem o bastante para namorar meninas, e que crê, piamente, que entende da vida, e de seus pormenores íntimos, muito mais do que nós, os adultos, que o atormentamos sempre. Afinal, logo-logo, ele será homem e, não há época melhor do que agora nem lugar mais confortável do que este para aprender, testar e compreender como tudo neste mundo dos adultos funciona. E, para nossa felicidade, ainda demorará muito tempo para que o menino saiba tudo que sabemos e, por isso, também nós temos tempo para aprender, muito, com ele.
Ontem, mais uma vez, lá estávamos nós dois a brigar pela estação de radio que queríamos ouvir. E eu, para irritar mesmo, mexia no dial sempre que ele se distraía. Provocava-o reclamando do som que ele ouvia e perguntava quem era esse ou aquele que tocava e que eu não conhecia. Torrei tanto a paciência de Lucas que ele virou, sério, para mim e disse: “Você não conhece música moderna não, tia? Só escuta música antiga?” “Claro que não!” Retruquei eu. “Gosto de música moderna, mas, diferente.” Mas, que susto aquilo: Lucas está crescendo mesmo, e eu estou ficando velha de repente. Que venham as discussões, fazer o quê? C’est La vie!
Beijos antiquados para todos os amigos e a família. A meus sobrinhos um pedido: Cresçam mais devagar, por favor!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vida

que nem sempre há sentido na poesia
entende-se,
uma loucura esperada e ansiada
(para causar efeito)
defeitos d’alma
poesia é arte (tempo desperdiçado)
desvario sacramentado do pensamento.
mas na vida
quanto à vida – Que esperar dela?
que faça todo sentido do começo
ao fim. algo certo, concreto,
controlado
planejado
um esquema pré-estabelecido
por critérios criados
antes do ser. Leis!
E a vida... A vida não pode ser vivida
como se fosse  poesia...Pode?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Deep blue


I've got the blues
deep inside
so blue sometimes
dark
that I hardly feel alive
and it gets hard to believe
in anything.
life is too concrete

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Nuestra América

Esta es nuestra América, sea ella latina o no, hable ella español o no. las injusticias son las mismas, y el sufrimiento habla todas las lenguas. Poco importa el nombre del país  a que uno elija, da igual, puesto que las lágrimas y el dolor, todavía, no conocen fronteras.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Mulheres e Meninas


Tempos atrás meu afilhado, Pedro, ganhou um passarinho novo porque o antigo se perdeu ou morreu, não me lembro exatamente. O passarinho é lindo, amarelo e engraçadinho e até aí, tudo bem. Contudo, e sem exagero algum de minha parte, o bicho é um assassino por natureza. Pilolo 2, esse é o nome do elemento, é de tal forma temperamental que teve que ser afastado das crianças. Suas bicadas ardidas, e sem motivo algum, podem machucar os pequenos de acordo com o local atacado e, por isso, a fera em miniatura, hoje, mora conosco.
Depois de algum tempo, e sem que ninguém esperasse, Pilolo botou um ovo e, sem necessidade de trocas de documentos e outras burocracias, passou a ser conhecido como Pilola; ponto final. Eu, carinhosamente, chamo-a de passarinha assassina fazendo jus a sua sanha natural. E, tal ovo de Colombo, o óvulo da passarinha explicou e simplificou toda a questão para mim: o temperamento do cão, se é que posso dizer isso de um passarinho, explicou-se - ele é fêmea afinal! E nada de narizes torcidos para mim, e de achar que sou machista. Não sou. Mas, o que esperar de qualquer ser do sexo feminino, a não ser, ser assim: bem maluquitas?
Um querido amigo, que escreve sobre mulheres e sobre as tentativas dele, não muito bem sucedidas, de compreendê-las, já teve que agüentar minhas argumentações radicais a nosso favor. Contudo, creio que a única coisa que consegui fazendo isso foi dar mais razão ainda à causa dele: é impossível compreender as mulheres. A passarinha e meu amigo me fizeram pensar várias vezes sobre o meu comportamento, sobre o nosso comportamento em geral. E qual a conclusão?
A conclusão, sem vergonha alguma dela, é que somos mesmo um tanto quanto exageradas quando o assunto é sentir, amar  e querer bem. Choramos com vontade e volume e, muitas vezes, nem sabemos o porquê daquelas lágrimas. Amamos demais e sofremos com as traições, as mentiras e a indiferença de homens e sua natureza esquisita para nós. Damos a vida por filhos, por pais e por toda paixão verdadeira. Esquecemos quem somos por quem amamos e, nesse ponto, muitas vezes nos perdemos. Somos capazes ao ciúme sem razão, ou com ela também, e declaramos guerra fazendo birra a mostrar a total falta de pudor que temos quando o quesito é expressar nossos sentimentos. Parecemos ser só coração e damos nossas bicadas também.
Claro que algumas de nós decidem fugir dos sentimentos e batem o pé jurando, sem cruzar qualquer dedo, que não acreditam nessa bobagem de relacionamentos verdadeiros. Há mulheres que amam apenas o dinheiro e tudo o que ele pode providenciar, trazendo uma pecha pesada a nossa “raça”.  Eu sei. Mas, mesmo essas, vez ou outra se apaixonam e, daí... Bom, daí não há razão que as salve de sua natureza feminina, sinto informar.
Hoje, depois de tanto pensar, acho mesmo que toda mulher, mesmo a mais velhinha, nunca deixa de ser uma menina e, por isso,  o sonhar e  o sentir demais. Simples assim. Acho, também, que felizes são os homens que aprendem a cultivar a menina que vive em suas mulheres e, jamais as deixarão sufocar. Afinal, uma bicadinha nem chega a machucar e o carinho que vem depois é bom demais.
Um beijo para minhas amigas passarinhas e, para meus amigos um conselho: esqueçam essa história de quererem entender as meninas. Somos feitas para sentir e amar, simplesmente.