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A poesia é uma cobra que morde o próprio rabo
A poesia é uma cobra que morde o próprio rabo
Que não tem, e jamais terá início, meio e fim
Porque simplesmente a poesia não é assim
Ela pode ser grandiosa ou tola
Pode ter rima ou não rimar uma palavra
E isso importa pouco agora
Mas um fim claro, e um começo bem marcado
Ah, isso a poesia não tem
Poesia é tal Maria-Sem-Vergonha, tal praga
Ela simplesmente brota, e aparece na nossa frente
Feito cobra
A serpentear-se sinuosa e insinuante
Com a intenção de ficar por cá
Para sempre
Enfeitiçando a vida da gente
2
Se houvesse talento
uma colher dele que fosse
e talvez tudo isso tivesse valido a pena
tivessem tido, então, todas as palavras ditas e escritas
algum valor verdadeiro
algo que fosse algo mais do que a expressão
egoísta de meus sentimentos
Se houvesse talento
gotas dele pelo menos
e provavelmente teriam sido belas as alegrias e a melancolia
mesmo que vividas sozinhas
e as palavras, quiçá, merecessem os sons
das bocas que pelo mundo caminham,
e, quem sabe daí, algum dia
alguma palavra minha merecesse
o falar da boca daquele para o qual esta vida de palavras
foi escrita.
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