segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Além Mar




Daqui a menos de um mês, pela primeira vez em minha vida, atravesso o oceano Atlântico em direção a Europa. Demorei uma vida para fazer isso e, apesar de haver o “antes tarde do que nunca” para me socorrer e confortar pela demora, eu creio mesmo que esta é a data mais acertada para a tal inauguração do Velho Mundo na minha vida. Eu sei, também, que há quem se pergunte agora: Mas quem disse que interessa para alguém isso de saber para onde uma fulana como esta viaja? Pois é, não interessa a ninguém.  Fosse eu, pelo menos, alguém que tivesse alguma importância para além daqueles a quem amo; uma persona pública. Mas não é o caso e, então, para que falar disso afinal?

Bom, como eu também não acho que a minha viagem interesse a mais alguém, o que vem a seguir não é a descrição de malas a fazer, roteiros, acessórios já comprados para a tal empreitada e etc. e tal. Não senhores. Quero falar daquilo que, além de importar muito para mim, é vital para quase todos nós: o fato de termos de “sair por aí” a ver o que há do lado de lá. Querer avançar e conhecer mais e mais aquilo que faz parte de quem somos nós. Sair e ver o Mundo para entender o que temos dentro de nós, mas que fica um tanto escondido.

Não sei o que todos pensam quando saem por aí, mas faço minhas as palavras de Cartola para explicar o que significa isso de sair por aí para mim – “Deixe-me ir preciso andar, vou por aí a procurar, rir para não chorar... Eu quero nascer, quero viver”.  Pois é mesmo assim que tudo se dá, pois não há como passar indiferente pela vida que se vê quando abrimos os olhos para aquilo que não faz parte do confortável cotidiano “à la Narciso” que rodeia o nosso umbigo.

Estar em outras cidades e países é ver como aquelas pessoas, tão parecidas conosco, são ao mesmo tempo um modelo distinto do que é ser gente. Hábitos distintos, cores novas, cheiros e gostos dantes nunca sentidos, reações inesperadas e fora do padrão por nós aprendido.  Aprendemos, portanto, com eles. Aprendemos que, apesar de não abandonarmos nossa identidade, podemos sim ser outro alguém que até aquele momento não conhecíamos bem porque a vida é muito mais do que imaginávamos até ali. E a mente e a alma se ampliam à medida que os quilómetros são somados nesta vida.

Para mim, uma tagarela de nascença, não há prazer maior numa viagem que ouvir uma língua diferente da minha, compreender o que o outro está a dizer e, simpática, travar uma conversa curiosa e animada. Conversar com gente que nunca mais verei e que, apesar disso, não esquecerei. Saber um pouco da vida deles e perceber como ela é, ao mesmo tempo, igual e diferente daquela que eu levo cá na minha terra. E volto diferente, renascida, maior por tudo aquilo que trago somado comigo.

Desejo a todos, meus queridos, muitas viagens nesta vida. Esta minha será única, uma mistura de passado e futuro inexplicável para mim ainda; uma volta ao ponto donde partiram meus bisavós e que reserva muito do que serei depois nesta vida.
Um beijo e boa semana.



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